O Coração da Cidade, instituição de apoio aos sem-abrigo do Porto, deixou de fornecer refeições gratuitas, algo que fazia há mais de dez anos. A instituição decidiu alterar a estratégia de apoio social de 300 refeições diárias “por motivos de desordem por parte de alguns utentes”.
“As agressivas formas de alguns sem-abrigo estarem connosco, principalmente há dois meses a esta parte, culminaram numa agressão mais violenta na última semana, que levou ao fecho”, explica La Salete Piedade, responsável pelo Coração da Cidade.
A instituição vai sofrer uma reestruturação e para tal foi posto em curso o projecto SE. “Socialmente esquecidos” e “Socialmente educados” são as fases do programa que visa acompanhar os beneficiários que estejam dispostos a ajudar para serem ajudados pela instituição. “Até agora dávamos o peixe, mas agora vamos dar a cana para que eles possam aprender a pescar”, diz La Salete Piedade.
“Um abrigo-escola onde vamos ensinar a viver em paz”, é como a presidente da instituição define este projecto. Os utentes irão trabalhar 12 horas semanais para a comunidade.
Os beneficiários terão um programa de educação, com cursos de formação para voluntários, educação profissional, serviços de psicologia social e ainda uma vertente de empresas. “Eu não estou à procura de que as empresas empreguem as pessoas, mas que lhes dêem a oportunidade de conhecer durante oito ou 15 dias uma realidade diferente daquela a que estão habituadas”, afirma La Salete Piedade.
Câmara do Porto ainda não é parceira social do projecto
A missão inicial de ajudar os sem-abrigo mudou e, agora, o objectivo é evitar que outras pessoas acabem na rua. “Vamos tentar prevenir para mais tarde não ter que remediar. Em vez de tratar de quem está na rua, porque já existem muitas instituições que o fazem, vamos evitar que mais vão para lá”, explicou ao JPN a responsável.
É de voluntariado e donativos que o Coração da Cidade vive. Cerca de 200 pessoas ajudam a manter esta instituição que tem despesas mensais de 20 mil euros. Quanto a apoios, esses são inexistentes, diz La Salete Piedade. “A câmara [do Porto] ainda não é um parceiro social deste projecto que eu considero muito interessante”, lamenta a presidente.