Eram três dias de Festival Marés Vivas com um cartaz que prometia. O resultado foi significativamente positivo: algumas desilusões, várias surpresas e dois dias completamente esgotados num recinto bem localizado, com uma óptima vista, porém de difícil acesso, apesar de todas as placas espalhadas por Gaia.
E para o ano há mais: está já agendado o Marés Vivas 2009 para os dias 16, 17 e 18 de Julho. A organização do evento espera manter um cartaz com “bandas de primeira-mão” e Firmino Pereira, vereador da Juventude da Câmara Municipal de Gaia, lançou mesmo o desafio à PortoEventos de encerrar o festival com o ex-Pink Floyd, Roger Waters.
Anos 80 em noite de lua cheia
O saudosismo do gótico e do pós-punk marcou o primeiro dia do festival. Peter Murphy e Sisters of Mercy atraíram vários milhares de fãs ao recinto localizado à beira do rio Douro, mesmo sendo quinta-feira.
A noite começou com Shout Out Louds. A banda sueca começou com um dos seus melhores temas – “Impossible” -, mas não teve grande impacto e a monotonia acabou por ser a tónica do concerto. The Sisters of Mercy subiram ao palco envoltos num espesso fumo e com pouca iluminação. Sem paragens entre os vários temas, a reacção do público em geral não foi muito entusiasta. Também a voz de Andrew Eldritch perdia-se no espaço, tornando-se por vezes imperceptível, para além da interacção inexistente com o público.
Com cerca de meia hora de atraso, entrou em palco o lendário líder dos Bauhaus, Peter Murphy, que foi o senhor da noite. Durante cerca de duas horas, deliciou os presentes com temas como “A Strange Kind of Love”, “Deep Ocean Vast Sea” e com uma versão de “Hurt” dos Nine Inch Nails. No encore, o artista regressou com “She’s in Parties”, original dos Bauhaus, e terminou com “Cuts You Up”.
Os tons melancólicos e a introspecção em formato acústico hipnotizavam o público. Ainda se ouviu a letra de “Bela Lugosi’s Dead”, para gáudio dos fãs de Bauhaus. A voz estava irrepreensível e a energia era a de um artista em início de carreira.
Tricky sem grande pretensiosismo
Que nem um pugilista prestes a derrotar os seus próprios fantasmas, Tricky apresentou-se no Marés Vivas, trazendo na bagagem o novo álbum, “Knowle West Boy”, que tem sido recebido pela crítica como o seu melhor desde “Maxinquaye”.
Apresentou-se em Gaia acompanhado pela dinamarquesa Kira, uma voz que contrabalançava com suavidade a interpretação intensa do músico de Bristol. Não se pode dizer que tenha sido um espectáculo fácil de assimilar, até porque Tricky parecia estar numa realidade paralela. Esteve a maior parte do tempo virado de costas para o público, a fumar. A actuação durou cerca de uma hora e começou com uma versão dos The Cure, “The Lovecats”, quase irreconhecível.
Sonoridade incendiária dos Prodigy
“Atenção! Iluminação utilizada durante o espectáculo dos The Prodigy pode provocar ataques de epilepsia”, lia-se num aviso. 20 mil pessoas esgotaram a lotação do recinto e muitas outras não conseguiram entrar. Nem por isso desistiram e ficaram até ao fim a dançar, ao mesmo tempo que tentavam espreitar por um muro.
O rastilho foi aceso logo no início com “Their Law” e nem o novo material acalmou os ânimos de uma multidão em êxtase. As passagens obrigatórias por “Breathe”, “Firestarter” e “Voodoo People” electrizaram os presentes. “Smack My Bitch Up” e “Out of Space” terminaram a dose de Prodigy. Apesar de curto foi mais um espectáculo, no mínimo, intenso e insano, com um jogo de luzes especial e indumentária a rigor.
James provocaram nova enchente
James fecharam em grande a sexta edição do Festival Marés Vivas, depois do concerto morno de Riders On The Storm. A voz de Brett Scallions não estava nas melhores condições, algo que este esclareceu logo no início do espectáculo. Ray Manzarek e Robby Krieger (ex-Doors), por seu lado, passaram o tempo a fazer uma apologia das drogas: “Get high” (droguem-se), gritava Ray.
Já a banda inglesa James deu um dos melhores concertos dos três dias. Uma nova enchente de 20 mil pessoas cantou e aplaudiu os temas dos anos 90 da banda liderada por Tim Booth, mas também as novas músicas foram bem recebidas. Uma legião de fãs entoava “Laid”, “Sit Down”, “Sometimes” e “Getting Away With It”. No final do concerto, alguns fãs tiveram a oportunidade de subir ao palco, encerrando o festival da melhor maneira.