Foi aprovado pelo Executivo da Câmara Municipal do Porto, esta terça-feira, o plano de requalificação para o Bairro do Aleixo que tinha sido apresentado pelo presidente da Câmara Rui Rio na semana passada e que prevê a demolição das cinco torres do bairro até 2013, no âmbito da criação de um Fundo Especial de Investimento Imobiliário. A medida prevê o realojamento dos moradores do Bairro do Aleixo em vários pontos da cidade, ainda indefinidos, porém.

A proposta contou com os votos favoráveis da maioria PSD/CDS-PP e do PS. O único voto contra foi o do vereador da CDU, Rui Sá. “Acho positivo que o PS tenha apoiado esta medida, mas não tenho como líquido que amanhã não votem [na Assembleia Municipal] contra”, afirmou Rui Rio em conferência de imprensa após a reunião de Câmara.

As preferências dos moradores vão ser “atendidas”, diz Rui Rio

Rejeitando as críticas de falta de diálogo com os habitantes do bairro, que na mesma manhã se manifestaram na praça Humberto Delgado, o autarca explicou que vai haver contacto com a população da zona no futuro e que “as preferências das pessoas do Aleixo serão atendidas”.

“Contava com menos interesse do que o que recebemos. Acho que o concurso [para a requalificação do bairro] não vai ficar deserto”

“Ninguém diz que não vai haver diálogo”, disse Rui Rio, para além de deixar em aberto a possibilidade de vir a receber a comissão de moradores, bem como a hipótese de se ouvir cada uma das famílias do bairro para saber para onde pretendem mudar-se. “Olhando para o Bairro do Aleixo, não percebo que haja uma grande maioria de pessoas que queira que a situação continue assim”, explicou o presidente da Câmara, reconhecendo que alguns moradores podem reagir de forma mais emocional.

Rui Rio mostrou-se satisfeito com as respostas que tem havido de empresas do sector da construção no sentido de participarem no concurso para a requalificação do Bairro do Aleixo. “Contava com menos interesse do que o que recebemos. Acho que o concurso não vai ficar deserto”, afirmou.

“Em Portugal metem-se providências cautelares por tudo e por nada”

Enquanto os vereadores se encontravam reunidos, à frente do edifício da Câmara Municipal cerca de 60 moradores do Bairro do Aleixo gritavam em protesto contra o projecto de requalificação da zona onde habitam. A Associação de Promoção Social da População do Bairro do Aleixo (APSPBA), que organizou o protesto, já alertou que vai interpor uma providência cautelar esta semana. Rui Rio, em resposta, considera “normal” que assim seja, “porque em Portugal se metem providências cautelares por tudo e por nada”.

Segundo o advogado que representa a APSPBA, Tiago Machado, o tribunal deverá dar uma resposta num prazo máximo de 15 dias depois da entrega do pedido de providência cautelar. O advogado afirmou aos jornalistas que “é natural que as pessoas não estejam contentes” e explicou que pretendem “suspender o processo”, para que o Executivo camarário “possa reunir-se com os moradores”.

Tiago Machado aproveitou a oportunidade para criticar a presença policial que recebeu os manifestantes. “Não havia necessidade de um contingente policial tão grande. Quase parece um estado-polícia”, disse, em referência aos cerca de 20 polícias que se encontravam em redor da praça Humberto Delgado.

“Os pobres também têm direito a boas vistas”

Pelas 11h chegou um grupo que veio desde o Bairro do Aleixo a pé, com cartazes e muito entusiasmo nos cânticos que entoava. Por entre o tradicional “Aleixo unido, jamais será vencido”, surgiam acusações de “mentiroso” e de “cobarde” para Rui Rio, misturadas com cartazes onde se lia que “Rui Rio=Bin Laden”. Contudo, ao longo da manhã as seis dezenas de manifestantes foram-se dispersando.

Quando começou a correr a notícia, por entre os manifestantes que sobravam, que a proposta da maioria PSD/CDS-PP tinha sido aprovada, a reacção não foi muita. “Vai uma providência cautelar, vão duas, três”, dizia um dos moradores. “A justiça existe para alguma coisa”, assegurava. “Nasceram lá os meus filhos, os meus primos, os meus sobrinhos. Morreu lá o meu pai, a minha mãe. Os pobres também têm direito a boas vistas”.