Apesar de ter crescido nos últimos anos, Portugal continua afastado da média europeia no que respeita ao investimento na ciência e ao número de doutorados e de publicações científicas. São estes os resultados de uma nota técnica feita pelos investigadores Cristina Delerue Matos, docente do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), e José Ferreira Gomes, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

Segundo a investigadora do ISEP, razões histórico-culturais estão na causa do atraso de Portugal a nível científico. “Começámos muito tarde”, afirma Cristina Matos ao JPN. A professora explica ainda que, há não muito tempo, 50% da população era analfabeta e que “em Portugal não há uma cultura de formação a nível superior”.

“É difícil quer a ciência entrar no mercado, quer as empresas apostarem na ciência”

Últimos governos têm feito “grande esforço”

Cristina Delerue Matos reconhece, no entanto, que tem vindo a ser feito “um grande esforço” por parte dos últimos governos, nomeadamente pelo actual ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, no sentido de tentar inverter esta situação. A despesa pública em bolsas e projectos duplicou entre 2000 e 2006, mas é necessário aumentar o investimento, diz a investigadora do ISEP.

Segundo o estudo, para que a economia portuguesa possa acompanhar as dos outros países europeus, é essencial assegurar o crescimento do investimento em Investigação&Desenvolvimento (I&D).

A crise financeira que o país tem atravessado nos últimos anos também tem constituído um entrave ao aumento destes investimentos, por parte do sector público e privado. Cristina Delerue Matos explica que, na conjuntura actual, “é difícil quer a ciência entrar no mercado, quer as empresas apostarem na ciência”.

Estratégia de Lisboa tem 3% do PIB como meta

Apesar de, segundo dados do Ministério da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior, o investimento total do sector público em I&D ter ultrapassado 1% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2008, o estudo dos investigadores do ISEP e da FCUP conclui que existe uma “dificuldade aparente” em cumprir os objectivos de chegar a 1% de investimento público e 2% de investimento privado até 2010, particularmente neste último caso.

O investimento médio da União Europeia (UE) em I&D é de 1,2% do PIB. Porém, países como a Finlândia e a Suécia há muito que ultrapassaram a meta dos 3%, enquanto outros estados como a Alemanha e a Dinamarca rondam os 2,5%. O objectivo da Estratégia de Lisboa para o sector é que, nos próximos cinco anos, os países da UE alcancem os 3% de investimento do PIB em I&D.