O Primeiro de Janeiroreapareceu nas bancas esta segunda-feira com uma “nova imagem” e com uma equipa redactorial de dez elementos vinda do “Norte Desportivo”, o caderno de desporto do jornal. Entretanto, os 32 jornalistas que compunham a redacção da publicação, bem como três funcionários administrativos, já receberam as cartas que lhes comunicam a extinção do seu posto de trabalho, que recusam assinar.

À porta da redacção são vários os que marcam presença diariamente, desde sexta-feira passada, à espera de receber um esclarecimento por parte da administração, que ainda não dialogou com os trabalhadores.

“Não sabemos como é que há uma extinção de um posto de trabalho se o jornal continua a sair”, refere Ilídia Pinto do Sindicato dos Jornalistas. A razão apresentada para o despedimento foi a redução da publicidade, mas à porta do jornal o que se diz é que a publicidade “disparou” no último mês, para além de a tiragem ter aumentado para 30 mil exemplares esta semana, mais dez mil do que antes.

Na segunda-feira o deputado comunista Honório Novo foi manifestar o seu apoio aos jornalistas que foram despedidos. Esta terça-feira foi a vez do deputado José Soeiro, do Bloco de Esquerda (BE), que acusou a administração do jornal de “desrespeito pelas pessoas” numa situação com “contornos de ilegalidade”.

O BE vai apresentar ao Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e ao Ministério das Finanças um requerimento a pedir explicações sobre a situação de “O Primeiro de Janeiro”. Ao mesmo tempo os bloquistas vão pedir esclarecimentos à Autoridade para as Condições de Trabalho sobre o porquê de, depois de sexta-feira, ainda não ter voltado às instalações do jornal.

“É incompreensível que o grande responsável por esta situação, ainda em Março condenado por fraude, seja homenageado em Abril numa cerimónia de atribuição de verbas do QREN [Quadro de Referência Estratégico Nacional]”, afirmou José Soeiro referindo-se a Eduardo Costa, proprietário d'”O Primeiro de Janeiro”. “São estes os empresários-modelo que o Governo apresenta ao país?”

“Quem fazia o desporto faz tudo”

Do lado dos jornalistas a indignação pelo sucedido é evidente. Não só pelos despedimentos e consequente retoma da publicação do jornal sem a equipa da semana anterior, mas também pelo próprio símbolo que é “O Primeiro de Janeiro”. “A identidade do jornal está-se a perder”, diz ao JPN Luísa Mateus, que foi dispensada no início de Julho com a promessa de vir a ser compensada. Não foi e agora encontra-se na mesma situação dos colegas despedidos esta semana. “Para além de termos sido postos de lado, é a falta de reconhecimento pelo trabalho que fizemos”.

Neste momento, “quem fazia o desporto faz tudo”, afirma outra das jornalistas presentes à porta da redacção, que se encontra fechada com um papel afixado onde está um número de telefone “para mais informações”. Do outro lado, ninguém atende.

“Não se pode culpar quem está a fazer o jornal agora”, explica uma jornalista que estava há oito anos n'”O Primeiro de Janeiro”. Segundo ela as culpas devem ser colocadas na administração. De fechaduras mudadas, os actuais produtores do jornal estão proibidos de falar com os colegas que foram despedidos. “Eles estão a ser coagidos”, exclama outra repórter.

Projecto de renovação ainda é mencionado

Para alguns dos jornalistas, a promessa da ex-directora Nassalete Miranda de regressar em Setembro com um “Janeiro” renovado ainda se mantém. Por outro lado, a incerteza é o sentimento dominante. “Nós não sabemos se o posto de trabalho dela [da ex-directora] também não foi extinto”, explica Paulo Almeida, o porta-voz dos jornalistas que foram alvo de despedimento.

O jornalista Filinto Melo, um dos que trabalhava na redacção do jornal, escreveu no seu blogue um comentário à situação: “compreendo os camaradas que têm filhos a nascer e filhos nascidos, os que quase choraram connosco quando pensavam que seriam despedidos e a quem prometemos defender. Os que esperavam ansiosos por uma palavra. Os que têm de pagar as dívidas às finanças por terem confiado na empresa. Compreendo o que lhes vai na cabeça. Compreendo porque qualquer um destes dias chegará a vez deles. E aí, os filhos já mais velhos e os filhos entretanto nascidos olharão orgulhosos para os pais, para a forma como eles combatem uma injustiça”.