Os expositores têm menos carne do que os de um talho tradicional, mas neste espaço no número 76 da rua do Cativo, no Porto, o que importa não é a quantidade, mas sim a qualidade. O Talho do Cativo é o único talho halal de toda a região Norte, como gaba um dos seus dois proprietários, Rashid. Ou seja, é o único na região que segue o abate definido pelas regras do Islão.

Em Portugal há sete anos, este marroquino esteve primeiro na Guarda, onde trabalhou numa fábrica de têxteis. Um acidente no emprego, porém, obrigou-o a abandonar o trabalho e em 2004 mudou-se para o Porto. “Gosto mais de estar aqui. Há muita gente, uma maior comunidade“, diz. Em Março de 2007, abriu, com o tio, o talho. Nunca tinha trabalhado num, mas com a ajuda do familiar foi aprendendo o ofício. “Aprendi muitas coisas desde que aqui estou”, afirma.

Certificação em todos os produtos

Halal significa “permitido” em árabe, em oposição a haram, “proibido”. Para o muçulmano praticante, toda a carne que come tem de ter este certificado. Desde os caldos de carne até às sopas em pacote, passando pela mortadela.

Um talho halal foi uma escolha de negócio que surgiu quase naturalmente. “Desde que chegámos que reparámos que a comunidade não era grande. Estávamos sempre a comer peixe e carne congelada”, explica ao JPN. “Era uma necessidade”, diz Rashid, na sequência do crescimento da comunidade muçulmana no Porto nos últimos anos. “Em Lisboa há três ou quatro talhos, aqui não havia nenhum”.

O negócio ao princípio era “difícil”, mas tem vindo a aumentar com o tempo. “Toda a zona Norte vem aqui. Temos clientes de Viana do Castelo, Braga e Vila Real”, sublinha. A clientela é maioritariamente muçulmana, mas ainda assim o Talho do Cativo vai recebendo algumas visitas de portugueses não-muçulmanos.

Carne sem sangue

A diferença entre o talho halal e os restantes é, fundamentalmente, no abate dos animais. Rashid explica que quando vão ao matadouro, os responsáveis já sabem que devem preparar o espaço com a ressalva de que se vai realizar um ritual religioso, separado das outras matanças.

“O objectivo principal é que a carne não tenha sangue”, esclarece, devido às bactérias deste. No talho vende-se de tudo – menos porco, obviamente. “Vendemos mais frango e vaca. Borrego vende-se menos porque é mais caro”.

Desde que abriram o estabelecimento, já receberam várias visitas das equipas de fiscalização da Câmara do Porto. E até a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) já lá esteve, refere Rashid. Declararam que o espaço estava impecável, conta, com um sorriso. Para além destas fiscalizações, o imã (o sacerdote muçulmano) também aparece “de vez em quando”. Contudo, o mais importante para o dono do talho é “a confiança que tem de ser criada com o cliente”.