O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) venceu, como era esperado, as eleições legislativas da passada sexta-feira, relegando a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) para um muito distante segundo lugar. Segundo resultados provisórios da Comissão Nacional Eleitoral de Angola, numa actualização feita às 20h de domingo, o MPLA recebeu 81,79% dos votos e a UNITA 10,50%.

Cavaco Silva felicita José Eduardo dos Santos

O presidente da República, Cavaco Silva, enviou uma mensagem de felicitações ao presidente angolano, José Eduardo dos Santos, demonstrando a sua satisfação “com o passo extremamente importante que as eleições em Angola constituíram para a consolidação das instituições democráticas no país, num quadro de pluralismo político”.

O líder da UNITA, Isaias Samakuva, afirmou, citado pela Reuters, que “os factos sugerem que os resultados finais desta eleição podem não reflectir rigorosamente os desejos expressados nas mesas de voto pelo povo angolano”. Samakuva admitiu seguir até ao Tribunal Constitucional para contestar o processo eleitoral.

Desde sexta-feira que a forma como as eleições decorreram tem sido alvo de críticas, apesar de não ter havido registo de incidentes violentos. A líder da missão de observação eleitoral da União Europeia, Luisa Morgantini, afirmou, citada pela AFP, que visitou locais de voto onde a organização era um “desastre”. Um membro dessa mesma missão de observação disse à BBC que assistiu à distribuição de dinheiro, televisões, rádios, entre outros bens.

“Eu vi pessoalmente membros do partido no poder de pé, não apenas na mesa de voto, mas nas cabines onde as pessoas estavam a votar”, referiu Richard Howitt. Por seu lado, observadores da Comunidade Sul-Africana do Desenvolvimento citados pela imprensa internacional consideraram a eleição como “transparente e livre”. Luisa Morgantini, na tarde de segunda-feira, em conferência de imprensa citada pela Agência Lusa, também salientou a “transparência” do voto, representando “um avanço para a paz”.

UNITA vai sofrer sério impacto financeiro com perda de lugares no Parlamento

A confirmarem-se os resultados divulgados até aqui, dar-se-á uma significativa mudança no país. Na semana passada, o chefe de programa de África da instituição Chatham House, Alex Vines, alertava para a importância de a maioria do MPLA não vir a ser alargada. Em 1992, nas últimas legislativas realizadas em Angola, o MPLA atingiu os 49,5%, enquanto a UNITA, sob a liderança de Jonas Savimbi, conseguiu 40,8%.

A Chatham House prevê sérios problemas para o principal partido da oposição angolana, uma vez que a maior parte das suas receitas vêm do próprio Estado, consoante o número de lugares no parlamento. “A perda de assentos nestas eleições vai ter um sério impacto nas finanças da UNITA”, lia-se num documento [PDF] publicado na semana da votação.