O director do Museu de Serralves, João Fernandes, já tinha organizado e inaugurado a exposição sobre a obra de Manoel de Oliveira, que recebeu até aqui mais de 40 mil visitas. Agora é a vez de a exposição abrir as portas ao ciclo que vai mostrar a filmografia do realizador português. “A exposição tem sido um trailer. Vamos ao que importa”, afirmou João Fernandes esta quarta-feira em conferência de imprensa.

Calendário completo do ciclo

A programação completa do ciclo de cinema “Manoel de Oliveira: Ver e rever todos os filmes (e mais alguns ainda…)” pode ser encontrada aqui.

Os filmes de Manoel de Oliveira, que comemora este ano o seu centésimo aniversário, vão ser exibidos a partir de 18 de Setembro, num ciclo intitulado “Manoel de Oliveira: Ver e rever todos os filmes (e mais alguns ainda…)”, numa referência aos filmes de outros realizadores que fazem parte da programação. Por exemplo, “Melodie der Welt” de Walter Ruttmann é uma obra que Oliveira nunca viu e à qual sempre desejou assistir. Daí a sua inclusão neste ciclo. Da mesma forma, “Gertrud” de Carl Dreyer, um dos filmes favoritos do realizador português, também faz parte do programa.

Criar públicos para o cinema de autor

O ciclo que vai ter início na próxima semana é dos maiores já feitos no Porto e pretende, também, contribuir “para a criação de público de cinema na cidade”, como refere João Fernandes. Exactamente devido a essa ideia, nalguns domingos de manhã vão ser exibidos filmes com um cariz que possa despertar mais interesse junto do público infantil. O primeiro domingo do programa, 21 de Setembro, vai contar com “Luzes da Cidade” de Charles Chaplin, numa sessão apresentada e comentada por Manoel de Oliveira. Na semana seguinte é mostrado “Aniki Bóbó”.

O director-adjunto da Cinemateca Portuguesa, Pedro Mexia, salientou a importância de se mostrarem os filmes de Manoel de Oliveira, algo que também vai acontecer em Lisboa na íntegra a partir de Outubro. “Parece-me importante mostrar os filmes. Se há alguém que foi prejudicado por uma ideia que se criou sem se ver o objecto em si foi Manoel de Oliveira”, declarou Mexia, numa crítica aos “demasiados clichés e ideias feitas” que se criaram em torno da obra do realizador sem que fossem, de facto, vistos os filmes.

Reconhecendo que as palavras Cinemateca e Porto têm aparecido muitas vezes juntas na comunicação social nos últimos tempos, o responsável da instituição explicou que “para além de o Porto ter o direito de ver cinema que não é o comercial, é preciso que existam públicos”. Iniciativas como a de Serralves são, na opinião de Mexia, necessárias para essa mesma criação de públicos. “A um direito deve seguir-se uma vontade e a vontade faz-se através de ciclos como este”.

Ciclo integral de Oliveira, mas com a presença de outros realizadores

O ciclo “Manoel de Oliveira: Ver e rever todos os filmes (e mais alguns ainda…)” vai mostrar mais de 70 filmes, incluindo 49 do realizador português. Começa a 18 de Setembro e decorre, pelo menos, até dia 9 de Novembro. Entre os destaques contam-se vários filmes de Oliveira poucas vezes vistos fora da Cinemateca – que colabora na organização do ciclo -, como “Ulha Branca, empresa Hidro-Eléctrica do Vale do Ave ULHA” (1932), “Portugal já faz automóveis” (1938), “Romance de Vila do Conde” (1959), “O Poeta Louco, o Vitral e a Santa Morta” – estes dois últimos exibidos pela primeira vez no festival de Veneza -, “A Caça” (1963), entre outros.

De salientar os “contrapontos” existentes no programa como o visionamento de “À propos de Nice” do radical realizador francês Jean Vigo na mesma noite de “Nice: À propos de Jean Vigo” de Manoel de Oliveira. No dia 4 de Novembro vai ser exibido “Belle de Jour” de Luis Buñuel e no dia seguinte a “continuação” desse filme, “Belle Toujours”, realizada por Oliveira em 2006.

O cinema nacional mais recente vai estar representado por Pedro Costa através do seu “Juventude em Marcha“, por Paulo Rocha e por João Botelho.