Quando em 1989 surgiu uma novidade chamada World Wide Web, estava-se ainda longe de adivinhar que suplantaria o fenómeno televisão. Mas a verdade é que, menos de duas décadas mais tarde, os jovens dos 12 aos 18 já passam mais tempo a “navegar” do que a contemplar a velha caixinha mágica.

Quem o diz é a investigadora Célia Quico na sua tese de doutoramento em Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, “Audiências dos 12 aos 18 anos no contexto da convergência dos media em Portugal: emergência de uma cultura participativa”, defendida, com sucesso, esta quarta-feira.

O estudo contou com as respostas de 962 jovens dos 12 aos 18 anos, a observação do quotidiano de dez famílias portuguesas e uma experiência de cross-media (mistura de vários meios, no caso televisão e Web) que apelou à participação e ao contributo criativo por parte de jovens dos 12 aos 20 anos. As conclusões revelam que a maioria dos jovens prefere a Internet e o telemóvel em detrimento da televisão.

Mais de 60% dos jovens “não vive” sem telemóvel

De acordo com os inquéritos realizados, a utilização do telemóvel por parte dos jovens é imprescindível, servindo para comunicar por SMS ou voz, tirar fotografias, filmar, enviar e ver vídeos, jogar e, também, para aceder à Internet. 67% dos inquiridos afirmou “Não sei passar sem o telemóvel”.

No entanto, ver televisão não deixou de ser uma actividade diária que ocupa parte significativa dos tempos livres dos jovens dos 12 anos 18 anos, sendo praticada, muitas vezes enquanto se usa a Net. Esta é, aliás, outra das conclusões do estudo de Célia Quico: actividades como ver TV, navegar na Net ou ouvir música são praticadas em simultaneidade.

Formato cross-media é o futuro

A investigadora disse ao JPN que “com a actual oferta de tecnologias e fragmentação de audiências, a produção em formato cross-media [oferta simultânea de vários media] é cada vez mais forte” como agregadora de audiências. “A televisão não está a desaparecer”, diz, já que continua a ser a actividade doméstica mais comum e que pode usufruir do formato cross-media através, por exemplo, do envio de vídeos e fotos pelo público ou participação por telefone e SMS.

Os mais jovens demonstraram ainda que criar os seus próprios conteúdos é uma prática comum, manifestando mesmo “experiência sobretudo em fazer vídeos, tirar fotos e fazer álbuns de fotografias na Internet, bem como em criar e manter blogues”.

Atitude dos pais ambivalente em relação à Net

A investigadora centrou o seu trabalho nas “oportunidades criativas e colaborativas da Net, em que os jovens não são meros consumidores mas sim “produtores e distribuidores de conteúdos”, destacando o YouTube ou o Flickr como exemplos de sites em que os utilizadores podem colocar vídeo e fotografia online, respectivamente.

No entanto, há perigos na Net que devem ser controlados pelos pais, que nutrem por este meio de comunicação uma atitude ambivalente, diz Célia Quico. “Os pais tentam controlar o horário de acesso e consultar o histórico de acesso a sítios web, mas programas como o Messenger ou o Hi5, que são os mais utilizados pelos jovens, são mais difíceis de aceder”, afirma.