O tecto da Capela Sistina não é apenas uma das maiores obras de arte de todos os tempos: os frescos são também um testemunho dos elevados conhecimentos anatómicos do artista italiano renascentista. É o que defende Gilson Barreto, autor do livro “A Arte Secreta de Michelangelo”.
De acordo com Barreto, docente da Universidade Estadual de Campinas do Brasil, os frescos da Capela Sistina contêm verdadeiras lições de anatomia, camufladas por códigos pictóricos e iconográficos.
O também cirurgião esteve quinta-feira na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) para a apresentação das principais teorias que constituem a sua obra.
Arte, religião e ciência
Segundo Barreto, Michelangelo terá dissimulado órgãos (como o coração, os pulmões ou os tímpanos), músculos, ossos e outras partes do corpo humano, numa obra de arte que conjuga mestria artística e conhecimento científico. “Arte, religião e ciência nunca se separaram. Elas são caminhos com o mesmo destino: a busca da explicação da existência humana e talvez da própria divindade”, considera Gilson Barreto.
Em cada personagem dos frescos existem, segundo o cirurgião, pistas sobre a peça anatómica retratada nesse espaço, conseguidas através da incidência de luz numa determinada parte do corpo, da direcção dos olhares de algumas personagens ou posições corporais. “Talvez esta leitura hipotética que fazemos seja apenas a ponta do icebergue em torno de todas as obras do Renascimento”, disse. “Deixo esta hipótese para ser estudada a fundo pelos entendidos em arte”.
70 mil exemplares só no Brasil
Em 1990, Frank Lynn Meshberger publicou um artigo no Journal of the American Medical Association em que defendia a existência de similaridades entre a cena d’ “A Criação de Adão”, representada no tecto da Capela Sistina, e a anatomia de um cérebro humano.
Fascinado por esta descoberta, Gilson Barreto prosseguiu os estudos nesta área e escreveu, em conjunto com Marcelo G. Oliveira, “A Arte Secreta de Michelangelo”, publicado em 2004. Até ao momento, vendeu já 70 mil exemplares só no Brasil e recebeu uma ampla divulgação internacional.
A iniciativa de organizar uma Sessão de Arte e Medicina com Gilson Barreto partiu da FMUP, em parceria com o Hospital de São João e a Associação para a Medicina, Arte e as Ideias. Amélia Ferreira, representante do Centro de Educação Médica da FMUP, considera que esta sessão foi “uma forma de desmistificar o traumatismo que os alunos têm relativamente à anatomia”.