Os políticos norte-americanos preocupam-se mais com o poder do que realmente com questões ligadas ao bem comum. Esta foi uma das ideias defendidas por Robert Entman, académico da Universidade George Washington, esta segunda-feira, na abertura do mestrado em Ciências da Comunicação da Universidade do Porto.

Entman, que se consagrou por consolidar a teoria do enquadramento (framing), deu um seminário, “Researching Political Power and Political Communication, e uma conferência pública, “Media, U.S. Foreign Policy and International Relations After Bush”, nas instalações do Curso de Ciências da Comunicação.

Especialista em media e política

Robert Entman é professor de media e relações públicas na Universidade George Washington e doutorado em ciência política por Yale. É autor de diversos livros, como “Projections of Power: Framing News, Public Opinion, and U.S. Foreign Policy“, que solidificam a teoria do enquadramento (trabalho que lhe valeu o Woolbert Research Prize, dado pela National Communication Association, em 2005), e abordam temas como a opinião pública e a comunicação política. Estuda os novos enquadramentos que o poder político tenta passar aos media, uma vez que depois da Guerra Fria os jornalistas começaram a resistir mais às visões oficiais da Casa Branca.

Uma das conclusões que o investigador dos EUA apresentou na primeira sessão foi que a candidata a vice-presidência, Sarah Palin, foi privilegiada por algumas televisões americanas, que transmitiram uma imagem positiva da candidata. Em contrapartida, o democrata Joe Biden foi prejudicado pelos media, sustenta.

Segundo Entman, a cobertura televisiva passou um bom enquadramento de Palin: a mãe perfeita que, ao mesmo tempo, tem uma postura forte – “The hockey mum”, nas palavras do investigador norte-americano. Já no caso democrata, a divisão no partido causada por Hillary Clinton, quando soube que já não ia ser a candidata presidencial, contribuiu para uma imagem negativa de Biden.

Estas molduras feitas pelos políticos e difundidas pela comunicação social influenciam a opinião pública, refere Entman, realçando que mesmo que parte da população seja informada e não se deixe manipular, há outra parte, decisiva nas eleições, que é facilmente manipulada.

Falta uma política externa mais “realista” aos EUA

A luta contra o terrorismo é um dos enquadramentos dominantes na actual política externa da Casa Branca, defende Robert Entman. E grande parte da comunicação social norte-americana tem contribuído para passar esta mensagem ao público.

Para o investigador, a política externa de George W. Bush tem recorrido ao simplismo e ao conflito. Para sustentar a sua teoria, Entman apresenta exemplos como a Guerra do Iraque, as relações com o Irão e com a Síria e o conflito na Geórgia.

Para conseguir o apoio da opinião pública, a Casa Branca veicula enquadramentos de vilões, como Saddam Hussein (ex-presidente do Iraque) e Mahmoud Ahmadinejad (presidente do Irão), e vítimas, como os georgianos, entre outros. Mas, segundo Entman, os acontecimentos são muito mais complexos do que isto e precisam de mais tempo para serem explicados.

Sem pôr de lado os interesses da nação, Entman defende que a política externa norte-americana deveria ser mais realista e racional. Um desafio que estará nas mãos do próximo presidente.