A Metro do Porto confirmou esta quarta-feira as notícias que davam conta de que o cronograma e o figurino da segunda fase de expansão da rede do metro seria alvo de mudanças.

Durante a manhã, o Conselho de Administração da Metro reuniu com o ministro das Obras Públicas e dos Transportes, Mário Lino, e com o presidente da Junta Metropolitana do Porto (JMP), Rui Rio. À saída o autarca acusava o mal estar com o que acabara de ouvir, confirmando, mais tarde, que perdeu a confiança no Governo.

“A expansão da rede foi pensada de forma ambiciosa”, defendeu, por seu lado, Ricardo Fonseca, presidente da Comissão Executiva da Metro, aos jornalistas. A proposta apresentada esta quarta-feira está aberta a mudanças, lembrou, mas define já quais são as apostas da empresa.

Vaivém na Boavista “não fazia sentido”

Como já se sabia, a linha da Boavista não é uma das apostas da Metro, preterida em favor de uma ligação Matosinhos Sul a S. Bento a passar pelo Campo Alegre.

Ricardo Fonseca argumentou que “um shuttle [vaivém] na Boavista não fazia sentido”. Rejeitou que se esteja a quebrar o memorando de entendimento entre JMP e Governo: “o memorando não diz que se deve construir a Linha da Boavista, mas antes o reforço das ligações circulares entre Matosinhos e Porto”.

Não foi o factor financeiro que pesou mais na escolha (a opção Campo Alegre é só ligeiramente mais barata), mas antes uma mistura de razões, das quais se destaca a facto de a zona beneficiada ter um carácter mais residencial e incluir bairros sociais, como o da Pasteleira, com população com poucos recursos. Já a Boavista é uma área mais focada nos serviços, lembrou o presidente da Comissão Executiva, que é também presidente do Conselho de Administração.

A opção tomada tem outras vantagens, vincou o responsável: é mais rápida, provoca menos problemas no trânsito rodoviário, serve dois pólos universitários (Campo Alegre e Universidade Católica) e permite a requalificação urbana da Rua Diogo Botelho.

A construção da linha da Boavista não está fora de hipótese, encontrando-se em estudo a sua inclusão ou não na terceira fase da rede. “Daqui por 20 anos ver-se-á como está a cidade”, disse Ricardo Fonseca.

Metro até Vila d’Este só em 2022

Não foi só a Rui Rio que os planos anunciados provocaram mal estar. Marco António Costa, vice-presidente da Câmara de Gaia, considerou “insultuoso” o calendário apresentado.

A ligação a Vila d’Este (desde a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, passando por Laborim) terá fim concluído só em 2022, já na terceira fase da rede. A ligação a esta zona, onde vivem 17 mil pessoas, era uma aposta do município gaiense.

Investimento total de 1.682 milhões

A rede proposta foi pensada segundo uma lógica de três circulares que promovam a “articulação e funcionamento em rede”, disse Ricardo Fonseca. A saber: uma circular externa, para “servir adequadamente a zona ocidental do Porto e aliviar o estrangulamento de capacidade na Senhora da Hora”, uma circular interna com Campanhã como ponto fulcral e uma circular sul, que “reforça a oferta em Gaia”.

A segunda e terceira fases têm um horizonte temporal de 14 anos e representam um investimento total de 1.682 milhões de euros, que o Governo suportará. “Evitamos a sobreposição da construção porque as obras causam sempre transtornos na cidade e é importante distribuir o esforço financeiro [pelo tempo]”, justificou Fonseca.

Em 2028, “ano cruzeiro de toda a rede proposta”, a Metro espera duplicar a procura face a 2008.