Os últimos números de violência no namoro revelam valores muito elevados. As vítimas de violência no namoro procuram a UMAR?

Algumas. Mas procuram em muito menor número do que as casadas e já com filhos. Elas acreditam que por amor conseguem transformar o monstro em príncipe encantado. Quando gostam, parece que nenhum conselho adianta. Depois ficam zangadas com a família e amigos, completamente isoladas, o que significa que ainda ficam mais vulneráveis à acção do agressor que trabalha muito para isso.

Quando vêm ter connosco dizem que não querem deixar o namorado. Querem que nós consigamos, por obra e graça do Espírito Santo, que eles deixem de ser agressores. Não se muda um agressor com conversa. Elas também têm que aprender que pedir ajuda não é apenas bom para elas, vítimas de violência, mas também é bom para estabelecer redes de solidariedade e apoio para as amigas.

Portugal está preparado para reduzir os números da violência doméstica?

Está. Tem que ter é mais juízo na forma como os dinheiros públicos estão a ser utilizados. É preferível gastar um bocadinho mais e pagar um pouco melhor às técnicas que estão nos centros de atendimento e fazer formação e exigir-lhes que elas façam um bom trabalho, do que financiar uma instituição para pagar uma ninharia a uma técnica que logo que tenha um emprego melhor se vai embora.

Faz sentido pagarmos a psicólogas, juristas e assistentes sociais que estão a trabalhar com vítimas de violência porque é um trabalho de risco, é um trabalho que exige especialização, que exige alguma experiência. Ainda não há um conhecimento suficiente do que é as vítimas precisam, de forma que estes serviços não têm muitas vezes boas respostas para as mulheres. Como é que se pode pensar que se pode abrir um centro de atendimento a vítimas de violência doméstica duas vezes por semana das 15h às 17h? A junta de freguesia, se sabe que há muitos casos de violência doméstica, devia exigir que ali ficassem contratadas, pelos menos, três técnicas.

Quando vetou a proposta de lei do divórcio, o Presidente da República anunciou que a lei devia ter em conta a protecção da parte mais fraca, considerando que, geralmente, é a mulher. Como viu o veto do Presidente?

O senhor Presidente da República não sabe nada da violência doméstica. A questão que ele levanta que é a do ressarcimento da vítima. É claro que ela não pode ficar sem nada. As vítimas vêm queixar-se e depois começa o processo de divórcio que habitualmente é litigioso e dura 3 anos. As mulheres vítimas de violência andam muitas vezes com não sei quantos processos atrás. Nunca há leis completamente boas. Toda a lei depende da forma como é aplicada. A nova lei é benéfica na medida em que diminui a litigiosidade dos divórcios.

As vítimas de violência foram um pretexto para o veto do Presidente, que tem a ver com os sectores mais conservadores da sociedade portuguesa que ainda acham que o casamento é mais importante que o bem-estar individual das pessoas e que a família deve manter-se com todo o esforço.