A quem dedica o novo livro?
Aos meus leitores portugueses. Por duas razões: a primeira é que isto é uma estreia mundial para mim, esta edição portuguesa provavelmente não vai sair em qualquer outro país. Os editores do mundo não querem publicar colectâneas de contos que não vendem tão bem como romances. Esta ideia é da minha editora portuguesa.
A segunda razão é que é um grande prazer deparar-me com pessoas do Porto, Lisboa, Braga, de todo o país, que quase todos os dias vêm falar comigo e dizer coisas honrosas sobre todos os meus livros.
Os livros de contos costumam vender menos que os romances. Mesmo assim decidiram arriscar…
É um risco. Felizmente não é um grande risco hoje, porque tenho um certo nome em Portugal e isso ajuda muito. Mas é um risco para qualquer editora. O mercado está de tal maneira saturado que as editoras não querem correr riscos, querem certezas, querem publicar o que eu chamo “clone”, os clones de “O Código de Da Vinci”.
Que à partida sabem que vão vender…
Ou vão vender ou vão, pelo menos, ter críticas de jornais. Ou, então, livros de gente já famosa, romances de apresentadores televisivos, vedetas. As pessoas que só compram um ou dois livros por ano vão comprar esse, porque é conhecido, aparece na televisão, que maravilha! Não tenho nada contra isso: o único problema é que significa que os editores correm menos riscos hoje em dia e criam uma certa uniformização do mercado.
O que é que podemos encontrar neste novo livro?
Muitas coisas diferentes. Com contos o autor pode variar muito. Tenho contos que decorrem nos Estados Unidos, em Berkeley, Miami, Nova Iorque, numa comunidade portuguesa. Tenho outros que decorrem em Itália, Brasil, Portugal.
Isto é fantástico, porque dá-me uma oportunidade de falar de culturas diferentes, mostrar e explorar conflitos entre pessoas com maneiras de pensar diferentes sobre amizade, tolerância, solidariedade, sexo, doença, morte… É uma das vantagens de uma colectânea de contos: o autor pode conduzir o leitor para muitos sítios diferentes e, espero, fascinantes.
Qual é que foi o maior desafio para escrever este livro?
O maior desafio num conto ou uma colectânea de contos é sempre limitar-se, ir directamente ao assunto, não vaguear, não criar personagens em demasia, não sobrecarregar o enredo. Porque em cinco, 10 ou 20 páginas tu não tens espaço, nem tempo, para criar muitas reviravoltas e surpresas, tens de ir directamente ao assunto e captar a atenção do leitor. E isso não é fácil.
Sobretudo hoje, quando as pessoas têm tanta coisa a fazer, se o leitor não está interessado no teu romance dentro de 10 páginas, não vai lê-lo. Então, é um desafio enorme contar, criar um mundo real e fascinante em cinco páginas.