Qual é o seu maior objectivo ao escrever?

Só tenho um objectivo ao escrever, além do prazer: escrever o melhor romance possível nesse momento.

Há alguma personagem que “tenha vindo ter consigo” mais tarde, ou seja, que tenha tido vontade de recuperar num novo livro?

Há um personagem no “Meia Noite ou o Princípio do Mundo”, que é o próprio Meia Noite, um bosquímano da África Austral. Acho que ele é fascinante, gostaria de o conhecer em pessoa. Não posso, mas foi muito interessante para mim pesquisar a cultura bosquímano. Foi uma experiência difícil manter o romance na minha cabeça durante três anos [o tempo de escrita do livro].

São recorrentes na sua literatura temas como as migrações, as viagens, sobretudo dos judeus. Porquê o interesse por estes temas?

São temas universais. Escrevo livros sobre cultura judaica e portuguesa, mas é só uma porta pela qual eu posso entrar para falar dos assuntos mais importantes para todos nós: amizade, solidariedade, tolerância, amor, morte, os medos que temos. Aproveito a cultura judaico-portuguesa para falar de tudo. Não quero limitar-me a falar de uma só religião ou cultura.

Já ganhou alguns prémios literários. Que significado é que lhes atribui?

Às vezes os leitores pensam que a vida de um escritor é muito glamorosa, mas não é. Estou em casa oito ou 10 horas por dia a escrever, mais nada. E às vezes falta um bocadinho de “miminho”, encorajamento, a palmada nas costas a dizer “você fez muito bem”. Um prémio é uma palmadinha nas costas, um encorajamento, mais nada.

Mas é também um reconhecimento do valor da escrita…

É um reconhecimento do valor. Diria que não escrevo com…

… o intuito de ganhar prémios?

Isso. Escrevo para criar o melhor romance possível naquele momento. E se alguém me der um prémio, óptimo. Se não, tudo OK.

Apesar deste novo livro ter saído há pouco tempo, já tem novos projectos tem em curso?

Tenho. Acabei ontem [8 de Novembro] de escrever um romance que decorre no gueto de Varsóvia, na Polónia, em 1940 e 41. É um policial diferente, tal como “O Cabalista de Lisboa” era um policial diferente. Estou muito entusiasmado com este novo livro. Tenho uma amiga portuguesa em Nova Iorque que está a ler o romance e depois de receber os comentários dela vou enviar outra vez ao meu editor inglês. Ele já recebeu o romance, gostou muito, mas queria umas modificações e só ontem as acabei. Provavelmente vai sair em Portugal em Outubro de 2009.

Já tem título?

O título provisório é “Os anagramas de Varsóvia”.