Rick Ridder começou por ser um produtor independente para a rádio e televisão. Mais tarde, foi consultor político do Partido Democrata nos EUA, tendo colaborado nas campanhas eleitorais de Bill Clinton e Al Gore. Foi também presidente da Associação Internacional de Consultores Políticos e auxiliou diversos chefes de estado em várias partes do mundo.

De visita ao curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, onde deu a conferência “The world according to Obama”, Ridder falou com o JPN acerca das corrida eleitoral de 2008.

Na sua perspectiva de consultor político, a campanha de Obama foi um sucesso, em grande parte, devido à aposta feita nos novos media. Tendo sido o Partido Democrata o primeiro a apostar em força na promoção partidária por via da Internet, com bons resultados, acha que essa passou agora a ser uma ferramenta decisiva para um candidato ou campanha?

A Internet não define necessariamente um candidato ou uma campanha política, mas pode dinamizar tanto os aspectos positivos como os negativos. Por exemplo: podemos pegar num discurso do Barack Obama que nos comova e, a partir do momento em que o carregamos para um serviço como o YouTube, essa mensagem é divulgada instantaneamente por todo o mundo.

Da mesma forma, podemos pegar num comentário como o que foi feito, há dois anos, pelo senador George Allen que usou um termo brejeiro – “macaca” – para se referir a um apoiante de um oponente seu. Duas horas depois,o vídeo já circulava pela Internet, acusando-o de ser racista. O adversário, o senador Warner, acabou por tirar proveito desta situação. Devido à instantaneidade que é própria da Internet, esta tanto pode prejudicar ou beneficiar um candidato. Depende do tipo de mensagem que é divulgada em larga escala.

Mais do que usar a “mudança” como um slogan, as medidas propostas por Obama reflectem condições para uma mudança efectiva?

Algumas das suas propostas, como a de terminar a Guerra do Iraque, já reflectem certamente essa mudança. Talvez a sua proposta para a reforma do plano de saúde não tenha sido tão “audaciosa”, – usando a palavra que ele próprio usou – quanto era a proposta de Hillary Clinton. Mas a sua forma de ser criou um grande sentido de inspiração e predisposição para a mudança, numa altura em que há muito, desde o Presidente John F. Kennedy, que os americanos não se sentem inspirados. Isso já é uma mudança.

Uma outra mudança anunciada por Obama é a de afastar os lóbis da Casa Branca, tendo inclusivamente criado medidas para o efeito…

Penso que vai ser muito difícil, até porque a própria equipa de Obama conta com alguns lobistas. Considero que a grande mudança, para já, e mais do que simbólica, é a de se ter reinstalado o sentido do american dream. A noção foi revigorada, deixou de ser mito e voltou a ser uma realidade plausível. Isso dá confiança à nação, à sua população.

Diz que Sarah Palin foi o “suicídio” da campanha republicana. Caso McCain tivesse convocado a actual secretária de estado Condoleezza Rice para “número dois”, podia ter sido uma escolha acertada do ponto de vista estratégico: a primeira mulher e afro-americana, sendo também uma política experiente, num lugar presidencial. Foi a extrema necessidade de se distanciar da administração Bush que impediu esta opção?

Sim. Rice foi uma hipótese excluída logo à partida por ser muito ligada ao governo de Bush. Isso iria fomentar ainda mais os ataques do Partido Democrata que associavam McCain a Bush, que iria manter o mesmo tipo de práticas uma vez que votou a favor das propostas de Bush 90% das vezes. Foi essa a administração que nos levou à questão do Iraque, portanto Rice não teria sido uma boa opção.

Não seria uma opção segura, mas haveriam muitas outras que seriam mais acertadas. A senadora do Texas, Kay Bailey Hutchison, por exemplo, era uma opção segura. O problema com Sarah Palin era a sua inexperiência e até mesmo muitos republicanos, dentro do partido, não acreditavam que ela tivesse a capacidade suficiente para o cargo.

O falhanço adveio de se ter optado somente pela vertente estratégica, sem ponderar as capacidades de governação?

Foi pior do que isso. Li em qualquer sítio que os republicanos equacionavam a hipótese de perder estas eleições, então deram-se ao luxo de correr um grande risco…É como num jogo de futebol: quando se está a perder, tenta-se sempre mandar a bola para o campo adversário, até à baliza adversária, mesmo que de bem longe.

O jornal The Chicago Tribune, de filiações republicanas, apoiou o candidato democrata nas eleições presidenciais pela primeira vez nos seus 161 anos de existência. Acusou o Partido Republicano de se “perder” e de “abandonar princípios”. Considera que o partido mais conservador carece de uma renovação?

Sim. Os republicanos terão de determinar cuidadosamente novas políticas e procurar outras formas de como reflectir as necessidades da população. Os assuntos sociais que defendem estão ultrapassados, deixaram de ter peso no voto americanos. Têm de criar novas propostas com novos propósitos. E essa alteração terá de começar, provavelmente, a nível estatal, através dos governadores e legisladores de cada estado, para experimentarem ideias novas, apurarem se estas funcionam ou não e, depois, passá-las então para o plano nacional.

Como consultor político, considera que o contacto com a comunicação social deve ser sempre feito mediante uma estratégia?

Alguns dos piores críticos de Obama estão na imprensa porque o democrata nunca foi muito disponível para a comunicação social. Ele quis manter-se reservado para impedir que controlassem ou deturpassem o seu discurso. Deu muito poucas entrevistas exclusivas ao longo da campanha. Ao falar publicamente, Obama controlava de certa forma o que era impresso sobre ele – não ia para além do que havia dito oficialmente.

McCain, pelo contrário, adorava abordar a imprensa no início. E quando achou que esta estava contra ele, afastou-se, ganhou uma posição semelhante à do Bob Dole [candidato republicano às presidenciais americanas de 1996, derrotado por Bill Clinton e que evitava a imprensa].