Produzida pelo Teatro de Ferro (TdF), interpretada por Carla Veloso e Igor Gandra (que é também o encenador), a peça “Daydream”, com texto de Regina Guimarães, oferece ao público 50 minutos de “incursão num território híbrido”, o dos sonhos. A peça estreia esta quinta-feira no Teatro Carlos Alberto (TeCA), no Porto.

Partindo de uma memória de Igor Gandra sobre a leitura de “As ruínas circulares”, de Jorge Luís Borges, o mentor do TdF, frisa que retirou da leitura do escritor argentino a ideia de “ciclo e de ruína”. “Partimos da ideia da possibilidade de construção ou reinvenção de um corpo, de um outro ser”, explica.

A marioneta é parte do desafio de materializar o sonho.A marioneta é parte do desafio de materializar o sonho.

Em palco, um grande relógio digital marca o início da peça. O relógio acompanhará, em contagem decrescente, os dois actores e a marioneta até chegar a zeros.

Segundo o encenador, o espectáculo “anda à volta do sonho enquanto projecção, enquanto projecto”. “Não há uma relação linear narrativa, que se estabeleça imediatamente. Há, isso sim, uma relação entre sonhador e sonhado, manipulador e manipulado, conter e ser contido”, explicou.

O desafio de representar o sonho

Representar algo imaterial – o sonho – acabou por ser um dos maiores desafios da companhia de teatro de marionetas.

A partir de ferramentas do quotidiano e de uma marioneta high tech, o desafio de transformá-los em “matéria de cena” impôs-se.

“Essa verdade é de extrema importância quando lidamos com uma técnica de ilusão como é a das marionetas. Digamos que o maior desafio é o de encontrar uma ilusão que seja verdadeira, de alguma forma”, esclareceu.

“Daydream” marca o regresso da marioneta às produções do TdF. Porém, o espectáculo lida com “uma noção da marioneta que se aproxima mais da linguagem da dança e do questionamento do corpo e das suas possibilidades”, explica Igor Gandra.

Reacção do público

Mesmo tendo em conta que a peça visa “a projecção de um no outro”, Igor Gandra não arrisca expectativas para a reacção do público.

“Tentamos transmitir coisas bem concretas, mas ao mesmo tempo há neste espectáculo algum espaço para certas subjectivações, interpretações mais pessoais das coisas que vão acontecendo”, afirma.

A identificação com o tipo de linguagem transmitida faz com que não consiga “generalizar um tipo de reacção”. As “piscadelas de olho” ao público durante a peça denunciam a intenção de comunicar com o outro, sem, no entanto, querer fazer “amigos à força”, explicou.

Com bilhetes entre 10 e 15 euros, a peça, para maiores de 12 anos, pode ser vista de terça a sexta, às 15 e às 21h30, aos sábados às 21h30, e aos domingos, às 16h, até dia 30 deste mês.