“A PIC considera-se provocada, desvalorizada e praticamente insultada com este desfecho do processo do Bolhão, que esperamos ser provisório.” Foi assim que Correia Fernandes, porta-voz da Plataforma de Intervenção Cívica do Porto (PIC), começou por mostrar a indignação da entidade perante a atribuição de um milhão de euros ao mercado do Bolhão.

A “inacreditável proposta”, decidida na reunião de executivo da Câmara Municipal do Porto (CMP), é uma verba “ridícula” que “não dá sequer para pintar as paredes do edifício” e significa que ou não há projecto ou é uma tentativa de “calar vozes”, acusou a PIC, esta sexta-feira.

“O Bolhão não pode ser instrumento de carácter político”

A PIC entende que o colapso do edifício não é responsabilidade da CMP, mas atribui ao município “o colapso do ponto de vista do património da cidade”. “[O Bolhão, que] não foi demolido pelas máquinas da TCN, vai cair de exaustão, uma vez que não foi anunciado nenhum outro caminho”, disse.

“As pessoas não podem ser usadas como se de mercadoria se tratasse e o Bolhão não pode ser instrumento de carácter político”, realçou Correia Fernandes, e acrescentou que “a CMP não se faz rogada em utilizar dinheiro dos contribuintes para outras obras.”

“Luta sem tréguas”

A entidade diz não desistir, prometendo uma “luta sem tréguas” até conseguir vincar o objectivo de uma completa requalificação e reabilitação do Bolhão.

A principais acções da PIC para continuar a mostrar o seu desagrado perante a situação passam por reactivar os canais por onde passa uma possível reabilitação (Assembleia da República, Ministério da Cultura, CCDR-N), e por “exercer pressão sobre partidos políticos e órgãos autárquicos.” Algumas das acções vão ter lugar ainda este ano, segundo Correia Fernandes.

“A nossa principal preocupação é o estado dos comerciantes”

O presidente da Associação de Comerciantes do Mercado do Bolhão (ACMB), Alcino Sousa, diz estar “pouco preocupado” com as “guerrilhas” que a PIC quer criar. “A nossa principal preocupação é o estado dos comerciantes”, diz.

“O movimento cívico tem dificultado mais do que tem ajudado”, disse o presidente da ACMB, ao JPN.

A ACMB apenas quer uma “rápida resolução da situação” – o que teria sido possível com o projecto do arquitecto Joaquim Massena (que Rui Rio pôs de lado), evitando o concurso público -, porque os comerciantes não têm “o mínimo de condições” neste momento, reforçou o presidente.

Quanto à verba de um milhão de euros, Alcino Sousa diz que “a câmara saberá o projecto que está a tentar fazer.”