No essencial, a tatuagem consiste num desenho que é “pintado” por baixo da primeira camada de pele (epiderme) e que vai alojar a tinta na derme. É por causa dessa profundidade que se diz que a tatuagem dói, porque os poros são abertos e a pele é “furada” para a tinta chegar ao destino.

A realização de uma tatuagem tem várias fases: a primeira é a escolha do desenho por parte do cliente. Kiko, da Spider Tattoos, tem clientes que chegam ao estúdio sem saber o que desenhar, algo desaconselhável. “Tento sempre que os clientes tragam alguma coisa, até para me ajudar porque eu não tenho tempo para desenhar. A tatuagem é para sempre, não vai durar só até amanhã e convém ser bem pensada”, explica.

Muitas horas a pensar no que iria fazer esteve Sérgio Nunes, o cliente que acompanhamos na realização da sua primeira tatuagem. A 15 minutos de dar o corpo ao manifesto era patente o nervosismo. Senta, levanta, circula, vê álbuns e volta a sentar. Tira o casaco e pergunta se falta muito.

Sabendo qual é a imagem (Sérgio escolheu uma tatuagem metade celta, metade tribal), o processo é seriado: passa-se a papel stencil – um químico que se põe por trás do desenho para o decalcar e depois se coloca no corpo, na zona que o cliente quiser.

A pessoa vê se gosta (Sérgio gostou), define-se ao certo o local da tatuagem, marcam-se bem essas linhas, e começa-se a tatuar pelas bordas. As primeiras “agulhadas” fazem o cliente cerrar os punhos. O tatuador ainda brinca e questiona se pode continuar.

Sérgio sorri e diz que sim (já que vai voltar dias depois para fazer outra, tem mesmo que se habituar à agulha). São duas horas de habituação, até à última parte do trabalho, que consiste no sombreamento do desenho, feito a copiar pela imagem original.

Kiko coloca o gel e envolve o braço de Sérgio com película. Venha o próximo, que são quatro a cinco clientes por dia – dependendo das escolhas de quem faz, porque pode não haver tempo para mais, ou até nem haver horário para tantos.

Segundo os profissionais, não há um local certo no corpo para fazer uma tatuagem. E, asseguram, a tatuagem dói. “Quase todos os clientes que vêm fazer a primeira perguntam isso. O que respondo sempre é que dói, não vou estar a enganar as pessoas”, diz Joaquim Cruz, da Tattoo Power. “Se a tatuagem fica debaixo da pele tem que doer um bocadinho”.

Mas não é nada de especial, diz, por seu lado, Kiko: “hoje de manhã tatuei uma cliente que adormeceu. Dói sempre, mas depende da sensibilidade de cada pessoa o custar muito ou pouco”.

Após o preenchimento do desenho, seguem-se os cuidados pós-tatuagem, a fase mais relevante no que diz respeito à actuação do tatuado.

São sempre os mesmos: o cliente sai do estúdio com uma película à volta da zona tatuada, para protecção da pele exposta, que deve ser retirada duas horas após o trabalho. Durante os primeiros dias, a tatuagem deve ser lavada com água e sabão e coberta com uma pomada regeneradora três a quatro vezes por dia. Ao secar a zona do desenho não se deve esfregar com a toalha.

Quando a tatuagem começa a ganhar cascas, é fundamental não coçar, porque o desenho pode partir. No primeiro mês da tatuagem não se deve ainda fazer praia, piscina ou solário, bem como todo o tipo de actividades que envolvem a pele.