A Casa da Música (CdM), no Porto, acolheu esta quinta-feira, a apresentação do livro “Ouvir o Som” (“A Sound Ear II”, no original), da autoria da britânica Alison Wright-Read, que aborda os problemas de saúde auditiva a que os profissionais do mundo da música estão expostos.

A obra foi traduzida e editada pela CdM, em colaboração com a área científica de Audiologia da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto (ESTSP). Está disponível ao público para download no site da CdM.

Financiado pelo Musicians Benevolent Fund (MBF), União Europeia (UE) e Associação de Orquestras Britânicas (ABO) e com o apoio do Sindicato dos Músicos (SM), o principal objectivo do estudo é alertar e beneficiar todos os músicos que falam português e, em particular, os que integram orquestras, para os cuidados a ter com a saúde auditiva.

“Ouvir o Som” é “um resumo de estudos internacionais e vai ajudar a desfazer certos mitos”, explicou Andrew Bennet, coordenador da Orquestra Nacional do Porto (ONP).

A partir de Janeiro, a ONP vai proceder a testes de ruído no palco, uso de auriculares ou outros aparelhos para proteger os ouvidos e a avaliações de problemas dos próprios músicos.

“Isto é apenas o início”

Alison Wright-Read fez questão de salientar que o estudo “não é o fim do trabalho, mas apenas o início”, porque “os músicos são maiores do que a música”, o que faz urgir a necessidade de proteger a sua saúde auditiva.

Combater o ruído não é fácil, daí que este estudo divulgue os principais estragos e stresse que o ruído pode causar (audição “tremida”, variedade dinâmica reduzida e falso ruído, por exemplo) e alerte os músicos para os cuidados a ter, como por exemplo, usar protecção regular e fazer testes auditivos periódicos.

“Hoje ficamos mais ou menos conscientes”

O chefe de naipe das trompas da ONP, Abel Pereira, pensa que a maior parte dos músicos não está consciente dos riscos que corre. “Acho que há uma falta de informação muito grande, as pessoas não têm noção que podem ter danos irrecuperáveis. Isto [a audição] é importantíssimo para a nossa profissão, tendo em conta que precisamos de nos ouvir e ouvir os colegas que tocam ao nosso lado”, disse.

Abel Pereira tem conhecimento de alguns colegas que “têm perdido a audição, alguns consciente, outros inconscientemente. E ainda há os que têm consciência e não admitem”.

Esta é uma situação difícil de resolver, na medida em que é uma “experiência nova” que necessita de um “período de adaptação”. “De qualquer forma, acho que nós [os músicos] estamos prontos para dar o passo e, pelo menos, experimentar”, reflectiu.