Entrar na Retroparadise é uma autêntica viagem no tempo. O espaço da Rua do Almada, no Porto, respira retro por todo o lado: no gira-discos ouve-se, por norma, blues e rock dos anos 1960, enquanto se descobre inúmeros artigos vintage.

Tem traços de camarim de teatro, com cortinas em tons avermelhados, mas também mais ao estilo de Hollywood, com lantejoulas e dourados. Os manequins envergam roupas e acessórios típicos de outras décadas, as paredes revestem-se de posters de filmes – como o do clássico de Fritz Lang, “Metropolis” -, e de capas de vinil.

No tecto, encontram-se pendurados chapéus antigos e o fenómeno de sucesso Betty Boop também não foi esquecido. Orixa, a cadela dos proprietários, esconde-se timidamente atrás do balcão, enquanto Rosali Cepeda atende os clientes habituais. “Quero um descontinho especial”, brinca um deles.

O que motivou este negócio de família foi o gosto pelas coisas antigas, principalmente dos anos 1950, 60 e 70. Para além de roupa, vende uma vasta colecção de vinis, que percorrem os mais distintos géneros musicais, tais como o blues, o rock’n’roll, soul, jazz e música psicadélica, bem como música portuguesa e brasileira. Quando, em 2003, se mudaram para a Rua do Almada não contavam com a dinâmica positiva na artéria nos anos subsequentes.

Uma casa com várias lojas

Do outro lado da rua, encontra-se a Casa Almada, de Mário Canijo e Raul Sousa. A loja é especializada em mobiliário vintage, iluminação e objectos de design português e internacional dos anos 1950, 60 e 70. Quase todas as peças são únicas.

Sara Rocha, designer e proprietária da Coq.luxe, um dos espaços pertencentes à Casa Almada, descreve os objectos para venda como “peças que trazem boas memórias e que, mesmo sendo de outra década, continuam actuais”. O espaço foi comprado e renovado, e a fachada foi concebida por um dos nomes mais sonantes de graffitii do Porto, o writer local Caos.

Com um ateliê e um espaço de venda na Casa Almada, Sara Rocha e a irmã, Inês Gonçalves, viram a oportunidade de desenvolver a sua própria marca de sapatos de luxo.

O Quarto de Cima é uma outra loja que partilha o edifício da Casa Almada. A roupa é de Ângela Guerra, com quem Sara e Inês entraram “nesta aventura”, como consultoras de imagem.

Uma cave multiusos

Também em 2006, abriu o Maria Vai Com As Outras, projecto de Ana Caeiro, Sílvia Silva e Marisa Silva. Com um cheiro a incenso, pouca luz e um ambiente acolhedor, o antigo une-se ao design mais moderno e original. Depois de ter acolhido durante 40 anos uma loja de ferragens, que acabou por ir à falência, o espaço ficou disponível e, agora, Ana descreve como uma “coincidência feliz” terem feito parte de uma corrente de comércio mais alternativo na Rua do Almada.

Segundo Ana Caeiro, a ideia era criar um espaço de actividades múltiplas, um sítio que fosse comercial e, ao mesmo tempo, cultural. No Maria, tanto se encontram produtos e artigos fora do comum, a apelar mais à tradição, como objectos inovadores, encomendados pela Internet.

A cave acolhe um leque variado de manifestações artísticas: exposições regulares, noites de poesia, peças de teatro, projecção de filmes e concertos. Se, por um lado, a actividade mais permanente são as exposições, a mais irregular e, segundo Ana, “uma das mais frustrantes”, tem sido o cinema.

Ana Caeiro admite que sentem a diferença na vida nocturna desde que o 555 fechou, apesar de abrirem todas as noites, sem excepção: “sentimos que a dinâmica aqui do espaço também mudou um bocadinho”. Apesar do Maria Vai Com as Outras já contar com dois anos de existência, “as pessoas ainda ficam surpreendidas por haver um espaço destes”.