“Se o online sozinho não funcionar do ponto de vista financeiro, a presença digital de um jornal deve ser reduzida significativamente de modo a encorajar as pessoas a voltarem para o produto físico”. É desta forma que as “Previsões para os Media em 2009” da Deloitte fazem uma recomendação que contraria a aposta actual no jornalismo digital.

O “produto físico”, leia-se, a edição impressa do jornal, deve ser protegido de forma a rentabilizar o órgão de comunicação enquanto produto pago. O cenário do “abandono” das versões digitais justifica-se, segundo a Deloitte, pela forte queda das receitas de publicidade.

A empresa anuncia ainda um 2009 “doloroso” para o jornalismo, com quebras na ordem dos 10% na circulação paga e dos 20 a 30% nas receitas de publicidade. “Mesmo os jornais que tenham dispensado metade dos seus trabalhadores poderão ter que lutar para sobreviver”, prevê a Deloitte, adiantando ainda que “um em cada dez jornais impressos irão fechar em 2009”.

O “suicídio” que é abandonar o online

António Granado, jornalista do Público, considera que “é um suicídio” abandonar o mundo digital em detrimento daquilo que já é “passado”. “Deixar de investir no online é agradar às pessoas mais velhas, habituadas ao papel”, argumenta Granado, que admite cortes no investimento na Internet, mas nunca em benefício de um jornal impresso.

“Provavelmente, talvez isso faça sentido numa televisão, que ainda é o meio de comunicação mais visto no mundo, mas mesmo aí tenho muitas dúvidas”, garante. Onde Granado não tem dúvidas é na “impossibilidade de um órgão de comunicação social português não ter uma presença fortíssima no online“.

Isto porque não há “qualquer hipótese” de chamar os novos leitores para o papel. “Os novos leitores já não lêem papel. Qualquer estratégia, mesmo num contexto mundial, de chamar leitores online para papel, não faz qualquer sentido”, avisa, citando o exemplo do diário gratuito Metro, que fechou as portas em Espanha, porque as gerações mais jovens “já nem de borla querem notícias nesse formato”.