Ainda mal o avião da US Airways tinha amarado no Rio Hudson no passado dia 15 de Janeiro, e já o mundo tinha acesso as imagens dos passageiros a “atravessarem” as águas. A CNN não estava lá. A primeira foto foi tirada através de um i-phone e chegou às redacções através do Twitter do desconhecido empresário Janis Krums.

Episódios como este fazem com que cada vez mais empresas jornalísticas utilizem o Twitter para divulgação das notícias de última hora. Para Paulo Querido, o serviço já ocupa “um lugar essencial na estratégia de qualquer redacção”. “Definir que meios devem ser colocados no Twitter e a estratégia do meio para a sua presença ali, pode ditar calmamente o fracasso da operação ou o seu sucesso”, alerta o jornalista registado no Twitter desde 2007.

João Simão, docente e investigador na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) realça a importância da entrada das notícias no Twitter. “Terá sido o ponto de viragem para utilizações mais maduras e concretas da ferramenta”, diz o especialista em Ciências da Comunicação.

Paulo Querido tem uma opinião diferente. Diz o jornalista freelancer que, “tal como nos blogues e, em geral, nas tecnologias de informação surgidas com a informática e a Internet, as empresas jornalísticas não marcam o tom. Andam a reboque…”.

“Serviço de difusão de notícias mais rápido do mundo”

Muitas vezes, os próprios jornalistas vão já actualizando os acontecimentos a partir do local, através do Twitter. Exemplo disso é a cobertura da conferência de Davos feita pela Reuters. “Nas últimas catástrofes, soube-se mais rápido dos acontecimentos através do Twitter do que pelos meios tradicionais”, reforça Isabel Coutinho, jornalista do Público e autora do blogue “Ciberescritas”.

Pouca popularidade entre os jornalistas portugueses

Apesar da crescente popularidade do serviço em Portugal, “neste momento a maioria dos jornalistas portugueses desconhece o Twitter”, comenta Paulo Querido. Conta que muitos aderem por estar “na moda”. “Alguns, raros, usam o Twitter de forma consistente”, remata o especialista.

Segundo Steve Clayton, da Microsoft, “o Twitter é inquestionavelmente o serviço de difusão de notícias de última hora mais rápido do mundo”. No seu blogue (“Geek in Disguise”), o especialista chega a falar de jornalismo do cidadão “com carga turbo”.

Twitter: Aliado ou ameaça?

A verdade é que a discussão está lançada. Acontecimentos como os do Rio Hudson comprovaram as limitações do jornalismo tradicional face às novas formas de divulgação instantânea ao dispor do “repórter cidadão”. Um caminho preconizado pelos blogues e que surge num momento de crise vivido pela generalidade da comunicação social, a nível mundial.

Para João Simão, o Twitter não ameaça nenhum dos meios de comunicação. “Em lugar de ameaça, o Twitter é mais um aliado, uma forma de chegar mais perto das fontes e de ter mais fontes”, argumenta. “Acredito que o cidadão comum não é um jornalista mas uma fonte, independentemente de ter apenas visto um acidente ou de o ter filmado e colocado o vídeo na Web”, continua. “Cabe aos jornalistas adaptarem-se, crescerem e evoluírem por forma a saberem utilizar as ferramentas que a tecnologia vai colocando ao dispor de todos”, remata o docente da UTAD.

Isabel Coutinho partilha da mesma opinião. “O Twitter é mais uma ferramenta, tal como os blogs. Quanto mais ferramentas melhor”, argumenta. “E se continuarmos a fazer o nosso trabalho de mediadores, cruzando informações, todas as ferramentas são válidas”, termina.

Limite de 140 caracteres não é um problema

O limite de 140 caracteres por tweet é apontado não como um problema mas como um ponto a favor do Twitter. “Embora seja uma limitação por vezes constrangedora, é a ideal para os requisitos jornalísticos de ser directo e conciso”, argumenta João Simão, também autor de um wiki sobre o Twitter.

Para Isabel Coutinho, os 140 caracteres não são um limite, visto poderem ser incluídos links nos tweets. “As pessoas sentem vontade de clicar. Pelo menos eu sinto”, explica a jornalista. Mais uma vantagem que pode fazer a diferença: “O Twitter permite fotografias”.