A definição do traçado da futura ligação entre Matosinhos Sul e a Baixa do Porto vai ser decidida por uma comissão paritária composta por elementos escolhidos pela Câmara do Porto e pela empresa do Metro do Porto. A solução, que terá sido apoiada pela Junta Metropolitana do Porto e pelo Governo, representa uma (re)aproximação entre as duas entidades, e visa ultrapassar o impasse em torno daquele que é o ponto mais polémico da 2ª fase de expansão da rede do Metro.

Avenida da Boavista ou corredor pelo Campo Alegre? É esta a pergunta que será respondida pelo grupo de trabalho liderado por Jorge Delgado, administrador do Metro, e pelo vereador do Urbanismo, Lino Ferreira. À comissão caberá analisar o impacto de cada proposta, devendo avançar com as primeiras conclusões no Verão deste ano. O objectivo passa por lançar o concurso da obra em Setembro.

José Carapeto, director municipal do Urbanismo, e Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto (ACP), são os outros nomes propostos pela Câmara para integrar o grupo. A Metro ainda não avançou os restantes dois nomes mas, segundo o “Jornal de Notícias“, um dos eleitos é Vítor Jorge Silva, engenheiro civil que esteve envolvido na construção da Ponte do Infante.

Dos nomes anunciados ontem, em reunião do executivo da Câmara do Porto, a maior surpresa é Rui Moreira. O líder da ACP encara o convite como um ”exercício de cidadania”. Ao JPN, diz ainda acreditar numa “solução definitiva para uma situação que está encravada e da qual depende o futuro de muita gente”.

Rui Moreira tem alertado publicamente para a necessidade de avaliar o impacto de qualquer decisão relativa ao Metro na cidade, na qualidade de vida, no tecido urbano e na mobilidade. Uma posição que garante não mudar agora: Não estou condicionado por nenhum exigência nem ninguém me disse o que vou lá dizer”, adverte ao JPN.

Por linhas tortas

Polémico desde a nascença. Assim se pode definir todo o processo de definição do traçado da ligação entre Matosinhos Sul e o centro do Porto, prevista no arranque da construção da rede do Metro. A opção por uma linha a atravessar todo o corredor central da Avenida da Boavista (Linha da Boavista) foi das primeiras ideias a surgir, tendo, desde logo, dividido opiniões. Apoiada por Rui Rio, presidente da Câmara do Porto, e pelo executivo da Metro do Porto liderado por Oliveira Marques, a solução “Avenida da Boavista” ganhou força maior em finais de 2007, a partir de um estudo da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Em Setembro de 2008, o governo decide, porém, deixar cair a Linha da Boavista (rementendo-a para a 3ª fase de expansão), para apostar numa ligação de Matosinhos ao centro do Porto (Estação de São Bento) a passar pelo Campo Alegre. Gerava-se uma polémica que levou Rui Rio a disparar críticas ao Executivo, a quem o presidente da JMP acusava de estar a agir “por interesses partidários” (o PS Porto sempre se manifestou contra a Linha da Boavista). Consumado ficava também o divórcio com a nova administração da Metro do Porto liderada por Ricardo Fonseca (defensor da opção “Campo Alegre”), cujo funcionamento Rio apelidou de “miserável”. A comissão agora formada pode, por isso, promover uma aproximação que reúna consenso no sentido de desbloquear o impasse em que entrou o – sucessivamente adiado – processo de expansão do Metro do Porto. Além da linha Matosinhos-Centro do Porto, a 2ª fase de expansão da rede prevê a construção das ligações Senhora da Hora – Hospital de São João (por São Mamede de Infesta) e Campanhã – Gondomar (pela zona de Valbom). Prevista está também a extensão da Linha Amarela até Laborim e da Linha Verde até à Trofa (a partir do ISMAI).

“Discussão está feita”, diz o PS Porto

A criação da comissão paritária colhe unanimidade no seio dos partidos da Oposição com assento na Câmara do Porto. “Tudo o que seja no sentido de acabarem o processo e fazê-lo de forma eficaz possível, não vemos problema”, diz Palmira Macedo, vereadora do PS, partido que Rui Rui já chegou a responsabilizar pelo impasse na expansão do Metro.

Palmira Macedo evita entrar em polémicas, até porque, diz, “não se trata de saber se se deve vir pela Boavista ou Campo Alegre, porque essa discussão já está feita”. Para a vereadora, “a linha da Boavista foi relegada para segundo plano”, ao passo que o traçado do Campo Alegre “responde melhor às necessidades da população”.

Já a CDU assinala “com agrado” a aproximação entre a Câmara e a Metro do Porto. Rui Sá deixa, porém, o aviso: “A decisão final tem que competir à Câmara Municipal do Porto. Não aceitarei decisões não discutidas e validadas na autarquia”, alerta o único representante comunista no executivo camarário.

Para Rui Sá, o passo agora dado “já devia ser tido tomado há mais tempo”. Crítico da postura do Governo no processo que conduziu ao impasse actual, o vereador comunista também não poupa Rui Rio, a quem acusa de “alimentar uma guerra da qual procura tirar dividendos políticos, em vez de uma solução que beneficie a a região”.

Relativamente à composição da comissão paritária, a escolha de Rui Moreira surpreende mas não gera anticorpos. “É sabido que é uma pessoa interessada nos problemas da região e pode ser que a presença de um não-técnico ajude a ver o problema de um quadrante diferente”, realça Rui Sá. Para Palmira Macedo, “Rui Moreira é um cidadão muito interventivo. Esperamos que seja isento”, resume.