Depois de liderar o mercado das exportações nacionais, a crise tomou de assalto a maior fábrica de semicondutores da Europa. Os 1700 trabalhadores da unidade de Vila do Conde deparam-se com um futuro incerto, numa altura em que o próprio Governo, de acordo com o Orçamento Suplementar, acredita que o desemprego chegará, em 2009, aos 8,5% da população activa.

Sociólogo e promotor do movimento cívico que assina o manifesto “Onde vais cidade?”, João Teixeira Lopes disse ao JPN que o desemprego será a consequência mais directa do possível encerramento da Qimonda. Ainda que os trabalhadores da empresa tenham “qualificações acima da média”, o sociólogo acredita que “provavelmente” só encontrarão emprego, no país, depois da crise económica internacional ter passado. “Por volta de 2011/2012”, enfatiza.

Algo que para o presidente da Associação Comercial do Porto, Rui Moreira, se pode traduzir num “êxodo” de trabalhadores qualificados para fora do Grande Porto e do país. “A região neste momento é uma exportadora líquida de mão-de-obra qualificada. Vamos ter cérebros em fuga”, lamenta. Um receio que é desvalorizado pelo reitor da Universidade do Porto, Marques dos Santos.

Para “viabilizar a empresa” e manter os postos de trabalho, a Comissão da Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) já se manifestou “disponível para participar” em iniciativas neste “grave momento da vida regional”, apesar de, como o presidente, Carlos Lage, afirma, não dispor de “meios próprios ou de instrumentos para intervir”.

“É muito difícil ter uma oportunidade como a Qimonda”

Na opinião de João Teixeira Lopes, o possível encerramento da Qimonda traz um impacto social “muito difícil de mudar a curto-prazo”, desenhando “cicatrizes estruturantes” na região Norte e afectando o país.

Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, vai mais longe: “Uma empresa como a Qimonda fazia de nós uma região mais atraente para aquilo a que chamamos ‘as novas tecnologias’. O seu desaparecimento é péssimo sob todos os pontos de vista”.

“Todas as actividades de criação e desenvolvimento de indústrias, tudo o que poderia permitir uma superação do atraso que vivemos fica travado”, concorda João Teixeira Lopes. O sociólogo apela à urgência em parar com os “investimentos nómadas”: “É muito difícil ter uma oportunidade como a Qimonda e, por isso, devemos pensar em formas de fixar os investimentos.”