A Qimonda Portugal não é a única grande empresa sediada do Norte a ser afectada pela crise. A Sonae Indústria, em vias de encerrar duas das suas oito fábricas em França, ou o Grupo Amorim, que ainda esta semana despediu 193 trabalhadores, são outros exemplos de companhias afectadas pela crise internacional.

Francisco Assis, eurodeputado pelo PS, diz que a Qimonda, ainda assim, “é um caso especial”, por ser “baseada em mão-de-obra mais qualificada” graças, por exemplo, ao protocolo com a Universidade do Porto. Assis avisa que “o risco de saírem do país nesta fase é muito grande”, sendo que Portugal tem de ser “capaz de reabsorver essa mão-de-obra em tempo útil” ou poderá testemunhar o êxodo de trabalhadores qualificados.

Carlos Lage, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), reconhece que “a crise económica e financeira internacional surge no preciso momento em que a economia nortenha iniciava um ciclo de retoma e de crescimento acima da média nacional.”

Em 2007, adianta o presidente da CCDR-N, o Norte registou “uma taxa de crescimento do PIB regional de 2,4 por cento, e em que procedia a uma reconversão importante do seu perfil de especialização”.

“Esta crise interrompe e quebra esse ciclo e vem adensar as sombras que pairavam sobre a região, exigindo novas respostas e soluções, difíceis de encontrar no actual contexto de retracção da economia mundial e dos nossos principais parceiros comerciais, mas absolutamente indispensáveis. Estamos perante um dos mais graves momentos da vida regional”, lamenta o presidente da CCDR-N, sublinhando que a região Norte pode ficar profundamente afectada se a Qimonda realmente fechar as portas.

Afastar “concorrência desleal”

Francisco Assis, lembra, contudo, que o que se passa na Qimonda Portugal também está a acontecer “noutros países europeus”, porque se trata de “uma empresa especializada num tipo de actividade muito exposto à concorrência internacional”. Sendo que, “com a crise financeira e a retracção dos mercados”, a situação pode tornar-se “dramática”.

A União Europeia não pode fornecer fundos comunitários a empresas em situação de insolvência, mas pode actuar de forma a atenuar os efeitos da crise.

“Primeiro, a União Europeia pode adoptar medidas económicas que permitam o relançamento da economia”, afirma, usando Portugal como exemplo de países “que estão a optar por medidas como o forte crescimento público”. Algo que Carlos Lage, presidente da CCDR-N, também vê como solução para o salvamento da região Norte e das várias empresas em dificuldades, “numa lógica de contra-ciclo”.

Francisco Assis salienta que se deve garantir uma “política industrial que garanta protecção ao nosso mundo empresarial, de forma a contrariar a concorrência desleal de que são vítimas por parte de países como a China”.