A Qimonda, que em 2008, abalada pela crise financeira, perdeu o estatuto de maior exportador nacional, representou em 2007 perto de 10% do total das exportações das empresas sediadas no Norte, responsável pela produção de três quartos das mercadorias que saem do país. Quais as consequências, então, de um encerramento da fábrica de Vila do Conde para a economia da região?

“O impacto mais imediato será sempre o desemprego”, afirma Ana Paula Africano, economista e professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). “Vai haver um empobrecimento da região, pressupondo que os trabalhadores tenham direito a subsídio de desemprego, pois vão continuar a ganhar, mas não vão estar a produzir”, explica ao JPN.

Uma outra das consequências mais gravosas será sempre a forte queda nas exportações, que pode traçar “cicatrizes estruturantes” na região Norte. Este é um factor de “grande preocupação, considerando a elevada importância desta unidade industrial nas exportações da Região do Norte e do País, assim como o seu peso no conjunto das exportações de alta tecnologia”, para Carlos Lage, presidente da Comissão da Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).

Como relata Ana Paula Africano, economista e professora, “a quebra das exportações não pode ser negligenciável, pois resulta na perda da reserva da moeda estrangeira no nosso país”, explica, acrescentando que a “Qimonda tinha um mercado muito capaz de gerar receitas que o país pode agora perder”.

Ana Paula Africano lembra ainda a perda de “qualidade de emprego”, devido à alta qualificação dos funcionários da Qimonda, bem como a nível de investigação. “A Qimonda tem parcerias com instituições universitárias, que poderão sofrer um empobrecimento do ponto de vista da produção de investigação. De resto, não sei até que ponto é que a Qimonda está envolvida com outras empresas do mercado português, que podem também ser prejudicadas por um eventual fecho da unidade de Vila do Conde”, avisa. A crise financeira também tem vitimizado outras empresas com sede no Norte do país.

“Nacionalização não é solução”

A investigadora da FEP não concorda com uma hipotética nacionalização da Qimonda, como foi avançado recentemente, por se tratar de um “mercado demasiado específico, que exige um conhecimento aprofundado dos produtos”.

“Existe actividade a mais, e por isso a produção tem de ser reduzida ou desaparecer. A questão é quem vai sobreviver neste cenário e isso não passa pelo Estado, mas sim pelo próprio mercado”, afiança, dizendo ainda que a “Qimonda tem de mostrar capacidade de se manter neste cenário de crise” para atrair um potencial investidor. A professora admite, no entanto, que, “em circunstâncias normais”, a Qimonda é uma empresa “de grande valia”.

Por isso, a Ana Paula Africano afirma que uma nacionalização por falta de viabilidade da empresa seria sempre “um adiar da solução”, que passaria pelo seu encerramento.