Foi anunciado como solução para uma polémica com mais de dez anos, mas está longe de ser unânime o Programa Preliminar para a requalificação do Mercado do Bolhão, sugerido pela Câmara do Porto (CMP).

Apresentado no passado dia 23 de Janeiro, o Plano [PDF] propõe transformar o Bolhão num “pólo dinamizador da recuperação da Baixa do Porto”, através da criação de “um espaço de cultura e festa, com exposições permanentes, música ao vivo, representações e feiras sazonais”. Colocada de parte a intenção de atribuir o projecto a um privado, a ideia é fazer do mercado “um centro de sabores e aromas tradicionais, “capaz de atrair consumidores qualificados e turistas”.

Laura Rodrigues, da Associação de Comerciantes do Porto (ACP), fala ao JPN num “projecto que poderá trazer mais-valias” ao Bolhão. “Está compatível com aquilo que se pretendia, ou seja, não desvirtua o edifício, não desvirtua o mercado propriamente dito e poderemos ter ali uma mais-valia que são os restaurantes, os bares…”, afirma.

A preocupação da associação reside nos condicionamentos às lojas do exterior previstos no programa. “As lojas de rua devem, no meu entender, continuar a ser lojas de rua e tratadas como tal (…), não faz sentido que se pretenda que o exterior também faça parte do mercado”, refere Laura Rodrigues.

“Gasto desnecessário”

“A solução que a Câmara do Porto encontra é uma solução que não traz melhorias face ao projecto anteriormente aprovado (…) e que acarreta um valor de obra de 20 milhões de euros”, critica, por sua vez, Fernando Sá, presidente da Associação de Feiras e Mercados da Região Norte (AFMRN).

Fernando Sá considera desnecessário o gasto de capitais tão avultados em obras e novos projectos “quando estes já existem”, numa alusão ao projecto do arquitecto Joaquim Massena, aprovado em 1998. “Está-se a atirar areia para os olhos dos cidadãos e dos comerciantes do Mercado do Bolhão”, atira o presidente da AFMRN.

Também o Movimento Cívico Estudantil (MCE) critica o “gasto desnecessário” de um milhão de euros num novo projecto “quando já há um projecto aprovado”.

O MCE, que já se tinha oposto à entrega do projecto de requalificação a privados, recusa a transformação do Bolhão num “shopping”: “Nós concebemos que o Mercado do Bolhão tem a sua importância na Baixa do Porto, que é um mediador do tecido comercial da cidade, do comércio tradicional (…), é como uma praça aberta à cidade”, explica Alice Jeri, membro do movimento.

Luta contra o tempo

O certo é que, entre os comerciantes que trabalham diariamente no Bolhão, são muitas as dúvidas que subsistem em relação ao novo projecto. Pede-se, sobretudo, “obras e limpeza com urgência” num espaço onde os andaimes já fazem parte do cenário. Há mesmo quem vaticine: “O Bolhão nunca mais é Bolhão”.

Por enquanto, o Programa Preliminar para a reabilitação do Mercado do Bolhão aguarda aprovação do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arquelógico (IGESPAR). Se tudo correr dentro do previsto pela autarquia, as obras deverão arrancar em 2010.

Alice Jeri, do MCE, reforça as críticas ao tempo de execução da obra. “Consideramos desnecessário adiar a reabilitação do mercado por mais um ano, sobretudo tendo em conta o cansaço dos comerciantes e a desertificação que o Bolhão tem vindo a sofrer”, explica

A Associação de Comerciantes do Bolhão (ACB) vai ainda ter uma reunião com os comerciantes para analisar o projecto em conjunto com os sócios da associação. Mas Alcino Sousa, presidente da associação, disse já ao JPN que “o mais depressa possível queremos obra, o mais depressa possível queremos uma solução para o Bolhão”.