E se, de repente, a Rua das Flores, uma das artérias mais emblemáticas da Baixa do Porto, fosse pedonal? É esse o ponto de partida para o “Projecto Flores”, um trabalho de recuperação da Rua das Flores, que está a ser desenvolvido por um grupo de artistas visuais e produtores culturais da cidade.

Conciliar as potencialidades culturais da comunidade das Flores com a possibilidade de a rua fechar ao trânsito (ver caixa) é, então, a principal finalidade da intervenção. “Pretendemos simular essa situação de rua pedonal e perceber de que forma é importante haver esse tipo de condições na cidade, em que uma rua se torna um espaço cultural de intervenções, onde as pessoas despreocupadamente circulam”, explica Manuela Simão, um dos elementos do projecto.

Um projecto com várias frentes

O “Projecto Flores” é o resultado de um curso leccionado na Universidade Lusófona do Porto chamado Intervenções Artísticas em Espaços Públicos. Como trabalho prático, os alunos foram convidados a dinamizar cinco zonas do Porto: o Largo dos Lóios, a Rua Mouzinho da Silveira, o Largo de S. Domingos, o Infante e, claro, a Rua das Flores. Os projectos serão, depois, revistos pela direcção do curso e por várias instituições. Tendo em vista uma futura recuperação destas zonas, as propostas vão ser analisadas pela Porto Vivo, Sociedade de Reabilitação Urbana e pela empresa municipal Porto Lazer.

A equipa acredita que, através da arte e de contributos pessoais, é possível tornar um espaço mais dinâmico e cosmopolita. Para tal, propõe-se a “fazer da Rua das Flores uma rua vivida e não apenas um local de passagem”, refere Manuela Simão.

O desafio foi aberto à comunidade há cerca de duas semanas e, até 28 de Fevereiro, a equipa está receptiva a propostas de todos os que quiserem colaborar no movimento cultural e artístico. A artista plástica acrescenta que o convite vai além-fronteiras, de forma a permitir que até artistas estrangeiros possam espelhar “a sua cultura na comunidade das Flores”.

A apresentação oficial do projecto está planeada para o final do Maio na própria Rua das Flores.

Rua pedonal não convence comerciantes

Lurdes, que trabalha nas Flores há 12 anos, acredita que, apesar de a rua ser muito visitada por grupos escolares e estrangeiros, será difícil transformá-la numa zona totalmente pedonal devido às operações de carga e descarga que o comércio exige.

Já Vítor Teixeira, contabilista de algumas lojas da rua, ressalva que a ideia de vedar a artéria ao trânsito não é nova. “Noutros tempos já se pensou em tornar a rua pedonal. Depois os comerciantes não aceitaram e chegámos a esta degradação que se está a ver”. O contabilista ressalva, contudo, que “a intervenção pode ser positiva, se os estabelecimentos comerciais sobreviverem”.