O desportivo «Record» e «O Despertar» não quiseram esperar pela entrada em vigor do novo acordo ortográfico. Desde 1 de Janeiro que o adoptaram, seguindo o exemplo de outros jornais brasileiros.

Ana Maria Brito, linguista e professora na Faculdade de Letras da Universidade do Porto não mostra surpresa perante a adopção destas regras. “O próprio Ministro da Cultura já disse que gostaria que houvesse uma adopção generalizada do acordo em 2009 por parte de vários sectores”, afirma.

A linguista acredita que até 2014 (ano de implementação do Acordo) outros órgãos vão adoptar as novas regras. “Basta ter prontos os conversores, os novos correctores ortográficos, etc. (…) a adopção do acordo a partir de certa altura é uma questão política, e não linguística. A questão linguística deve ter sido (ou não) discutida ‘a montante’. Agora, há que adoptá-lo ou não”, atesta.

Não houve reacções significativas em relação à postura adoptada pelos dois diários. Para Alexandre Pais, esta reacção passiva advém da indiferença face às iniciativas tomadas por aqueles com quem competem, apesar de antever a adopção do acordo por parte dos restantes órgãos de comunicação. “Em Portugal, a ferocidade da concorrência numa actividade em crise acentua a tendência habitual: a de olharmos com indiferença, e mesmo algum desprezo, para as iniciativas uns dos outros, em especial para as daqueles que seguem à nossa frente. Por isso se assobia para o ar, mas também aí existe passado e futuro. Um atrás do outro, os órgãos de comunicação social adoptarão o novo acordo”, conta ao JPN o director do Record.

Os leitores reagiram de várias formas: desde as mensagens de apoio até aos comentários de menos agrado, como contou o director do «Record», que acrescenta: “Não temos dúvidas que muitos portugueses só em última instância mudarão os seus hábitos. Mas não terão outro remédio, os rios nunca correm para as nascentes”.
A directora-adjunta d’ «O Despertar» afirma que todas as reacções negativas que receberam foram apenas contra o acordo ortográfico e não contra a iniciativa do jornal.

Apesar das resistências que se podem esperar, Ana Maria Brito acha que a evolução da grafia é algo que se deve encarar com naturalidade e que não trará nenhum inconveniente à cultura portuguesa ao ser adoptada pelos órgãos de comunicação social portugueses ou brasileiros. “Ao longo da história da língua portuguesa houve inúmeras grafias e os linguistas, em geral, vêm isso com alguma naturalidade, porque os linguistas sabem que não é por isso que a língua muda. Claro que poderão ter mais ou menos simpatia por uma determinada reforma por ela ter mais ou menos justificação do ponto de vista linguístico”.