Já há alguns anos que a mulher não é vista como uma dona de casa cujo dever se limita às lides domésticas. Os empregos tipicamente masculinos continuam, muitas vezes, a ser vistos como um tabu, mas cada vez mais o sexo feminino tende a derrubar estas barreiras. Quer no mercado de trabalho, quer no ensino superior.

Andreia Oliveira é um desses exemplos. Trabalha numa empresa informática e, mesmo quando estava na faculdade, nunca se sentiu inferiorizada. “Nunca tive problemas com os rapazes enquanto estive a estudar, aliás era a ‘mascote’ da turma. Até acho que nos tratam melhor por sermos mulheres”, afirma.

Teve, sim, problemas com clientes da empresa, que questionam, muitas vezes, as suas competências. “Chegam a perguntar se percebo de computadores”, diz, indignada.

Taxista há oito anos, Carla Salgado reconhece que as pessoas ainda têm dificuldade em aceitar uma mulher ao volante. É uma das vinte mulheres taxistas que trabalham na empresa. Como “aquelas senhoras de idade que ficam um bocado assustadas quando vêem uma mulher ao volante”, afirma. Garante, no entanto, que a maior diferenciação não é feita por homens, mas sim por mulheres.

Convicta, Carla Salgado afirma-se mais capaz do que muitos homens, até porque não recusa um serviço. “Nós temos colegas que até têm medo de ir ao bairro do Aleixo”, sublinha.

Claro que na sua profissão, a taxista já sofreu alguns dissabores, principalmente com clientes que não escolhem, a princípio, o destino para onde querem ir. “Já andei assim com uns ucranianos que me queriam levar para o meio do monte, mas a gente dá a volta”, diz.

Queixas aumentam porque pessoas “estão mais atentas”

A directora da Comissão da Igualdade do Emprego (CIE), Catarina Marcelina, afirma que a diferenciação entre géneros depende muito do nível de responsabilidade social das empresas.

O nível de sexismo que as empresas demonstram delimita a desigualdade salarial entre homem e mulher, não só a nível de pessoas no mesmo grau de hierarquia, mas também quando se trata de aceder a cargos superiores, explica Catarina Marcelina.

Há casos de homens que também são discriminados, mas continuam a ser “maioritariamente as mulheres”, salienta.

“O número de queixas tem vindo a aumentar, também porque as pessoas estão mais atentas”, diz a directora da CIE. Nos anos de 2005 e 2006, a Comissão registou apenas uma queixa, enquanto que, em 2008, 11 pessoas recorreram aos balcões da CIE. Este ano, já registaram três participações.

A CIE recebe as queixas, dá o parecer negativo ou positivo e, em função da deliberação, encaminha a participação para a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), que intervém judicialmente. A cooperação entre as duas instituições assegura a luta pela igualdade entre sexos.