Uma surpresa para muitos. O socialista António Mourão é o primeiro candidato invisual nas autárquicas do Porto e não hesita ao afirmar que quer retirar a freguesia de Cedofeita à coligação PSD/CDS.

Desde 1996, altura em que integrou o Partido Socialista (PS), que António Mourão tem sido um nome presente na política. “Já tinha estado numa comissão política distrital de Francisco Assis. Isso deu-me possibilidade de, algumas vezes, intervir e as pessoas verificaram, com certeza, que aquilo que eu dizia tinha algum nexo”, diz o candidato.

Confiante, António Mourão acredita que a proximidade com as pessoas da freguesia onde sempre viveu pode ser uma “mais-valia” para a candidatura. “Há muita gente que me conhece, umas pessoalmente, outras de vista”, afirma. O candidato é peremptório: “Se eu não pensasse que tinha hipóteses, não me candidatava”.

Apesar da deficiência de visão, este professor de filosofia nas escolas secundárias de Carolina Michaëlis e Rodrigues de Freitas garante que o percurso político que o precede fala por si. “A primeira vez que eu me candidatei [à presidência da secção de Cedofeita do PS] tive apoios que me incentivaram. Tive 53% dos votos para a secção. A segunda vez já tive 67%, porque as pessoas verificaram que o meu trabalho era válido.”

Cedofeita com “preocupação social”

O maior obstáculo a esta candidatura é, para Mourão, a mentalidade das pessoas, não só em relação às deficiências, mas, também por causa da descrença geral. “As pessoas precisam de ver para crer”, afirma, ciente das dificuldades que poderá enfrentar. “Eu próprio, muitas das vezes, tenho a consciência de que as pessoas não estão a acreditar que eu possa fazer as coisas”, confessa.

A tesoureira da Junta de Freguesia de Cedofeita, Susana Alfredo, refere-se a António Mourão como “uma pessoa bastante culta” e “bem-falante” e deseja que a candidatura do socialista “se estranhe e depois se entranhe”.

Por outro lado, há quem pense que esta é uma candidatura que pode levar a uma maior sensibilização das pessoas para o problema. “Se há desemprego para as pessoas que não têm qualquer deficiência, estes têm muito mais dificuldade. As pessoas têm que começar a abrir a mentalidade”, diz Laurinda Nogueira, funcionária administrativa de Rodrigues de Freitas.

António Mourão não faz promessas, mas confessa-se determinado em compreender as necessidades da freguesia de Cedofeita, em geral, e das pessoas que nela residem, em particular. “Eu não posso prometer nem chafarizes, nem rotundas”, brinca o candidato e acrescenta que sabe que “a freguesia de Cedofeita tem dificuldades económicas”, mas que “a maior parte das obras dependem da câmara”.

O candidato diz que o que pretende oferecer a Cedofeita é uma “preocupação social”, porque a “junta é o poder que está mais próximo das pessoas e, portanto, tem que ser o veículo de transmissão das aspirações das pessoas para os outros órgãos”.