Arranca, esta quinta-feira, a segunda edição do “Ciclo Documente-se! Registos na Primeira Pessoa”, uma iniciativa conjunta do Serviço de Artes Performativas da Fundação de Serralves (SAP), do ISCTE e do Departamento e do Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Até domingo, o ciclo propõeum programa multidisciplinar que se exprime em espectáculos de dança, teatro, música, performance, cinema, conferências e mesas-redondas.

“Projecto pensado a quatro” – por Cristina Grande e Pedro Rocha, de Serralves, e Luísa Veloso e Natália Azevedo, investigadores do Instituto de Sociologia da FLUP –, o “Documente-se!” nasceu em 2008 para “apresentar propostas que façam uma reflexão sobre o lugar do documento no mundo e sobre as representações que são construídas sobre esse lugar que nos rodeia”, explica Cristina Grande, directora do SAP.

Nesta edição, documenta-se o social a partir do “olhar individual”, diz Cristina Grande. “O ano passado fizemos uma reflexão mais global sobre as diferentes formas de fazer o documentar do social. Este ano, assumimos documentar o social a partir de registos que são pessoais e entendidos na primeira pessoa”, esclarece Natália Azevedo.

Apesar do novo mote, a essência do “Documente-se!” mantém-se: “ter uma pesquisa alargada onde estão práticas e reflexões científicas, mas também artísticas”, sublinha Cristina Grande. Do “encontro entre programadores de áreas que têm vocações diferentes” resulta o traço “mais interessante” e “único” do evento: “conseguir mostrar que há um cruzamento entre estes dois universos [o científico e o artístico]; que há uma maior transversalidade entre discursos e práticas do que aquilo que à primeira vista poderia parecer”, considera Natália Azevedo.

Entre discussões e criações

O trabalho que vai marcar a abertura do evento é a instalação “At The End Of The Road”, de Viv Curringham, “um retrato sonoro de percursos que a artista realizou em Minnesota”, assinala Cristina Grande. À noite, a cantora Shelley Hirsch vem ao auditório de Serralves para um concerto tecido por “imagens sonoras e fragmentos musicais” de “partes de ambientes, situações, de memórias”.

No sábado, dia 14, há mesa-redonda com a artista visual Ana Jota e o arquitecto Alexandre Tavares. Mais tarde, será exibido o filme autobiográfico de Raymond Depardon, “Les années déclic”, com sessão comentada pelo sociólogo Augusto Seabra. No domingo, Loreto Troncoso apresenta um road movie com vídeo e performance. A fechar o primeiro momento do ciclo, Viv Corringham fala em conferência sobre o seu trabalho, “a partir da instalação presente no foyer do auditório”.

Cristina Grande destaca ainda o “Open Call” que decorre no site de Serralves. Esta chamada pública tem como intuito “recolher registos pessoais e testemunhos” que servirão para construir “um momento de improvisação, a acontecer no segundo momento do ciclo”, dirigido pela dramaturga Rita Natálio.

Destaques para a segunda parte do ciclo

Na segunda parte do “Documente-se!”, de 20 a 28 de Abril, Serralves será palco de performances a cargo dos coreógrafos Raimund Hoghe e Eszter Salamon .O encerramento do ciclo acontece na FLUP com a conferência de Béatrice Fraenkel, especialista “Antropologia da Escrita”. A investigadora “vem falar do sentido da assinatura pessoal nos mais diversos documentos, como meio da afirmação do ‘eu’ e de um certo poder”, adianta Natália Azevedo

As restantes iniciativas podem ser vistas no desdobrável do programa, preenchido pela banda desenhada “A História da Minha Vida em 47 Quadrados”, de António Jorge Gonçalves. Um projecto “já ele próprio uma iniciativa do ‘Documente-se!’” e uma “obra de arte” que antecede o arranque do ciclo, diz Cristina Grande.