O mote é o combate à exclusão social. O pretexto passou pelas dificuldades que os anões têm em usar as caixas do multibanco. Foi com alguma ironia e muita provocação que arrancou, esta quarta-feira, no Porto, o ciclo de conferências “Afinal que mundo é este?”, promovido pelo Espaço T, em parceria com a Caixa Geral de Depósitos (CGD).

O ciclo tem o objectivo de “definir e reflectir sobre que mundo é este onde vivemos, onde existem pessoas com problemas, anões, seropositivos, doentes mentais, pessoas com limitações e que a sociedade tenta excluir. Queremos provocar esta sociedade civil onde só cabem os normalizados”, explica Jorge Oliveira, director do Espaço T que, na primeira sessão do ciclo, contou com a companhia do actor David Almeida e da arquitecta Susana Machado.

A sessão inaugural reuniu centenas de jovens no auditório da CGD. “O facto de a Caixa Geral de Depósitos nos ter aberto a porta é um sintoma de mudança, de uma sociedade que está a pensar cada vez mais e melhor para que esta utopia de um mundo perfeito possa um dia ser uma realidade”, adiantou o director do Espaço T.

Diferenças que (ainda) se notam

De realidade, no entanto, falou David Almeida, actor e anão. “Diferentes somos todos, mas há obstáculos que fazem com que as pessoas tenham que se tornar dependentes. Devia haver uma inserção social mais fundamentada, por parte do estado, criando possibilidade de as pessoas irem ao multibanco”, desafiou.

Já Susana Machado mostrou-se mais optimista e realçou o problema da exclusão como uma “questão que diz respeito a todos”. “Temos uma constituição que obriga o estado a ter uma atitude para com os cidadãos: sinalética, passadeira, isto é, aspectos complementados por uma legislação que nos permite intervir exigindo às entidades a adaptação dos espaços por não estarem acessíveis”, alertou a arquitecta.

Palavras que marcaram a primeira sessão de um ciclo que, ao longo de 2009, pretende fomentar a reflexão sobre a integração de todos na sociedade. “Os surdos não ouvem concertos”, “Os cegos não podem ver arte”, “As prostitutas existem porque os outros gostam” e “Os toxicodependentes não são confiáveis” são os temas das próximas sessões. O evento encerra com “Um mundo perfeito”.