A “Por Vocação” é uma loja de roupa masculina, mas também vende perfumes, calçado e acessórios vários. Situada na Avenida da Boavista, não é só a selecção criteriosa de marcas e produtos de qualidade que lhe dão fama: é também a sua montra.

Pedro Caride, o proprietário da loja, é um dos responsáveis pela criação das originais montras, verdadeiras instalações artísticas viradas para a maior avenida da cidade. O trio criador é completado por uma arquitecta (a catalã Adriana Reguera) e por um designer gráfico (Nuno Zeferino). Não são apenas as montras que mudam, já que a própria disposição dos móveis e até a iluminação adaptados ao conceito da vitrina. “Muitas vezes sou eu que lanço o mote e depois eles vêm com ideias ou vice-versa”, diz o proprietário ao JPN.

Apesar das montras serem muito diferentes entre si, todas elas partilham os mesmos critérios: “tentamos gastar o menos possível e divertirmo-nos”, sem que isso hipoteque fazer “coisas em que a ideia seja forte”, acrescenta.

Nenhum dos três tem formação em vitrinismo. “Começámos por carolice e por diversão, sem vícios e sem uma escola a formatar o pensamento”, diz Pedro Carnide. A rotatividade das montras não é fixa, mas geralmente muda ao fim de três semanas. Foi quando a “Por Vocação” se mudou da Rua dos Mártires da Pátria para a Avenida da Boavista que Pedro Caride decidiu apostar na criação de montras. “A montra é como um postal ilustrado, mas não tem de ser necessariamente um manequim estático durante três semanas”, explica. “A montra comunica também uma imagem, a da loja, aquilo que nós gostamos, naquilo em que nos revemos”.

Coração inspirador

As reacções do público são variadas, mas Pedro Caride prefere destacar a resposta, mais do que o seu conteúdo. “As pessoas não ficam indiferentes: há quem goste e quem não goste, mas no meio de tanto ruído de comunicação haver alguém que reflicta e depois diga ‘não gosto’ é bom”, argumenta. De vez em quando há quem entre apenas para perguntar quem faz a montra. O culto é tão grande que, quando Pedro Carnide perdeu a sua colecção de fotografias das montras, conseguiu recuperar porque há quem se ocupe de fotografar as montras, coleccionando-as como postais. “É o maior elogio que nos podem fazer”, diz Pedro. A própria responsável pelas montras da “Papélia” diz-se admiradora das vitrinas da “Por Vocação”.

A montra mais popular foi a que juntou os quadros de Giovanni Bragolin (a série de meninos que choram, obra lapidar no imaginário kitsch) com uma colecção de cachecóis. “Essa montra foi incrível, todas as pessoas adoraram”, conta Pedro ao JPN. A vitrina preferida do marketeer foi a dos saldos de Inverno de alguns anos. “Usámos post-its para desenhar o símbolo de percentagem e, sem querer, ‘pixelizámos’ a montra”, conta divertido, “aquilo dava para tudo, no dia dos namorados reordenámos os post-its para desenhar um coração, podíamos ter continuado por anos”, conclui.

Numa outra montra de S.Valentim, Pedro e amigos pintaram os lábios com batom e encheram a vitrina de beijos. Na segunda-feira seguinte encontraram a montra com beijos dados de fora. “É muito poético haver alguém que beija a montra, é uma reacção bonita”, recorda ao JPN. Há resume para todas as montras.

Mas a “Por Vocação” também teve a sua dose de montras polémicas. A última foi a que exibia um manequim deitado numa marquesa. Houve quem se sentisse mal e algumas pessoas entraram na loja para resume a iniciativa. “Não estávamos nada à espera”, diz Pedro Carnide. Também houve quem se resume a entrar na “Por Vocação” por altura da montra com cabeças de animais a usar cachecóis.

Em 2009, a vitrina da “Por Vocação” já conheceu duas versões, ambas relativas às obras de fachada no edifício no qual a loja ocupa o rés-do-chão. “Fomos surpreendidos pelas obras e tivemos que suspender a ideia dos saldos de Janeiro-Fevereiro, então decidimos tirar partido do ruído e exagerar”. As mudanças notam-se também no interior, com uma disposição diferente. “Para nós a montra é tudo, não tem limite, prolonga-se – há ideias para fazer da montra a loja toda”. A ideia é sempre a mesma: surpreender as pessoas.