Tal como a “Por Vocação”, a “Papélia”, loja técnica para as belas-artes fundada em 1938, é diferente. A começar pelo passeio, em calçada portuguesa, que invade o chão do espaço num prolongamento com a rua e a acabar nas duas montras, que conhecem resume. Além da montra comercial, a “Papélia” tem uma segunda vitrina que é uma mini-galeria.

É assim desde 2003 com a exposição resume, iniciativa que correu tão bem que ficou o desejo de repetir a experiência. Não seria preciso esperar muito. Em 2004, surgiram na montra doze variações temáticas sobre o galo de Barcelos a propósito da exposição resume. No ano seguinte, a propósito do Metropolitano, foi a vez de “4 estações, 4 paragens”, uma exposição na montra dividida em quatro fases.

Este ano, é a “Montra Ilustrada” que toma conta da vitrina-galeria da “Papélia”. Durante uma semana por mês, de Janeiro a Dezembro, a montra é galeria de ilustradores. Mas o objectivo mantém-se: trazer a arte ao comércio, aproximar os conceitos de loja e galeria e apresentar informalmente ao público artistas e o seu trabalho.

Uma “nova” montra por mês

A “Papélia” tem já ilustradores atribuídos para todos os meses. Entre os nomes mais conhecidos estão Eduardo Salavisa (previsto para Julho) e o músico portuense Manuel Cruz (previsto para Agosto). A “Montra Ilustrada” abriu em Janeiro com Paulo Patrício, autor do mini-comic “Le Sketch”.

Em Fevereiro (entre o dia 26 e 5 de Março), foi a vez do trabalho conjunto de Ana Carvalho e Ricardo Lafuente, ambos com 25 anos e licenciados em Design de Comunicação pela FBAUP. “O convite surgiu na sequência da edição do livro ‘Eggs & Ham in Rotterdam’“, explica Ricardo ao JPN. O livro é uma compilação de pequenas estórias escritas e ilustradas pelos dois enquanto faziam um mestrado na Holanda.

Para Ricardo, “tem imenso sentido reformular a velha ideia da montra como mostruário de produtos para venda” até porque o híbrido loja-galeria é um passo lógico considerando que a “Papélia” “é um art-store e só faz sentido juntar as duas dimensões”. O jovem designer já apreciava o “imenso cuidado” na montagem de montras da “Papélia”, mas diz que “convidar pessoas de fora é uma iniciativa muito bonita, na medida em que considera e acolhe o trabalho elementos do universo criativo em geral”.

Para além da vertente artística, as montras transfiguradas da “Papélia” são também “bem-vindas no actual cenário de falta de espaços de exposição para uma nova geração de criadores”, reflecte o criador.

O critério de selecção, resume Regina Pinheiro, artista plástica e colaboradora da “Papélia” há vários anos, é informal porque se baseia em pesquisa e contactos na internet, para além do constrangimento temporal. A reacção deixa-a satisfeita: “Temos recebido e-mails de pessoas que gostariam de participar, as pessoas são muito receptivas ao projecto e mostram muito entusiasmo”, diz.

A participação na “Montra Ilustrada”, na última quinta-feira de cada mês, vale pela oportunidade e não é renumerada, baseando-se numa parceria entre a loja como galeria e os artistas enquanto clientes de material técnico. Por exemplo, Eduardo Salavisa é conhecido do grande público pelo blogue Desenhador do Quotidiano, produzido num diário gráfico, material que a “Papélia” vende. “Há sempre uma ligação muito ténue entre o que esta na montra como arte e como produto”, diz Regina Pinheiro. “É uma espécie de sinergia”, conclui