Os movimentos que se desenham (uns mais timidamente do que outros) são tão diferentes e singulares quanto as pessoas que os libertam. Cada corpo tem a sua forma de falar. Descobrir a expressão corporal individual, ao “desafiar os limites do corpo”, é a proposta do workshop de dança contemporânea da Universidade do Porto (UP), que juntou, este sábado, alguns estudantes da UP na Faculdade de Desporto (FADEUP).

O processo de experimentação do corpo dura seis horas e desenrola-se em duas fases. “De manhã é mais técnico, mais físico, com exercícios de trabalho de chão, deslocações no espaço, etc. De tarde há mais composição, improvisação, para que as pessoas se sintam mais livres para se conhecerem e conhecerem os seus movimentos”, explica Cátia Esteves, formadora do workshop, que vai na quarta edição.

Aqui faz-se uma “pesquisa” do corpo e uma criação de movimentos personalizadas; a formadora apenas “dá sugestões” para isso. “Surpreendam-se” é uma das palavras-estímulo e é essa liberdade de procura que entusiasma Cristina Torres na dança contemporânea. “Gosto da possibilidade de me poder expressar de uma forma livre”, diz a estudante de Ciências da Educação, que veio pela segunda vez ao workshop e que quer “dar continuidade à prática de dança contemporânea numa escola”.

Mas para a construção de um vocabulário próprio é preciso “sempre uma base técnica”, sublinha Cátia Esteves. São estas directrizes “básicas” – pois muitos dos participantes “não têm qualquer experiência em dança” – que vão conduzir à “busca da consciência corporal”. Para Cristina Torres, o trabalho técnico permite “conhecer o corpo, descobrir que podemos fazer coisas incríveis em termos de flexibilidade”.

Na dança contemporânea, o outro também nos ajuda a explorar o nosso corpo. São os chamados “jogos de confiança”. Os participantes esboçam movimentos juntos, sozinhos, mas a partir do corpo do colega. Foi a “curiosidade” e a vontade de “abrir horizontes” que trouxe Sara Moreira ao workshop e é a interacção com o outro o aspecto que mais a surpreendeu. “Pratico dança oriental e o contacto físico na dança era desconhecido para mim”, diz a estudante de Belas-Artes.

Guiados pela música, os participantes vão “interpretando” os impulsos do corpo, traçando movimentos, reconhecendo que “as várias partes do corpo se podem mexer ao mesmo tempo de forma autónoma e diferente”. Dançar o contemporâneo é dançar o “que está dentro de nós”, refere Inês Queirós, outra das participantes. “Não há cânones a seguir; é a nossa expressão corporal. É quase como uma transformação”, remata Sara Moreira.