A AEFFUP organizou ontem o XIV Fórum Farmacêutico, evento que aquela faculdade repete todos os anos, subordinado ao tema “Sexo: Uma questão de química?”. O fórum dividiu-se em quatro painéis ao longo do dia com convidados e temas vários.

O fórum, segundo a comissão organizadora, pretendeu “desconstruir mitos” da sexualidade num “espaço de discussão aberta, enriquecido pela participação activa dos estudantes e convidados”. O convidado-postal que mais interesse e público atraiu foi o professor Júlio Machado Vaz, cara conhecida da rádio e televisão, além de autor de livros como “O amor é…”.

De manhã, estiveram em discussão, ao longo dos dois primeiros painéis, sexo seguro, doenças sexualmente transmissíveis, psiconeurofisiologia da resposta sexual humana, infertilidade e disfunção eréctil.

A sessão vespertina começou com a intervenção da médica Augusta Cardoso, especialista em cirurgia plástica reconstrutiva, que se debruçou sobre os temas da interssexualidade e da transsexualidade. “Muitas vezes não é fácil nem é rígido ser homem ou ser mulher”, afirmou a especialista.

Durante a sua apresentação, alguns casos públicos foram mencionados, como o de Roberta Close ou de Thomas Beatie, o homem-grávido. Casos que, para Augusta Cardoso, reflectem “situações de conflito e aberrações” que não deseja ver acontecer. “O tratamento cirúrgico é uma ideia que tem de amadurecer e pode demorar vários anos”, disse, chamando depois a atenção para a irreversibilidade do processo que obriga à maturidade do paciente e ao profissionalismo do médico.

Ainda no terceiro painel esteve Pedro Nobre, presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (SPSC) e professor na UTAD, que falou sobre disfunções sexuais e seus aspectos psicológicos. Para o investigador, vivemos na “era do Viagra”, de cuja eficiência o docente desconfia. Até porque, referiu, há estudos que falam em “satisfação moderada e taxas de abandono”. Nobre falou ainda de uma correlação directa entre disfunções sexuais (quer nos homens quer nas mulheres) e a prevalência de crenças no falocentrismo ou declínio etário.

“Vivemos num mundo aos pés dos jovens”

O quarto painel foi inaugurado pelo professor Júlio Machado Vaz, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (SPSC), que centrou a sua intervenção na relação entre sexualidade e envelhecimento. Para o orador, a medicina tem conseguido prolongar a esperança média de vida, mas não a sua qualidade. Com uma população cada vez mais envelhecida, o professor defendeu que é importante trazer o sexo a debate, uma vez que “vivermos num mundo aos pés dos jovens” em que “o sexo é para os jovens e bonitos”.

O fórum encerrou com o psiquiatra Francisco Allen Gomes, médico psiquiatra de Coimbra, com uma intervenção intitulada de “Paixão, amor e sexo”, título de um dos seus livros. Allen Gomes considerou o casamento por amor uma invenção recente, originada pela perda de influência de factores externos ao casal. “Deve ser por isso que há tantos divórcios”, brincou o sexólogo que também abordou os diferentes tipos de amor e o sexo como denominador comum a todos eles.