A Comissão de Acompanhamento da Linha de Metro da Zona Ocidental do Porto (mais conhecida por Linha do Campo Alegre) propõe o enterramento da linha a partir da Boavista até São Bento. A sugestão foi lançada, esta quarta-feira em conferência de imprensa, pelos três membros que representam a Câmara naquela entidade.
A Comissão, composta por Rui Moreira, presidente da Associação do Porto, Lino Ferreira, vereador do Urbanismo da Câmara do Porto, e José Carapeto, arquitecto do quadro técnico da autarquia, reuniu-se com os jornalistas para dar a conhecer o “acompanhamento dos trabalhos” do futuro traçado. A Comissão não tem “poder deliberativo”, sublinha Rui Moreira. A sua função é apenas “dar sugestões” para o aperfeiçoamento da linha que começa em Brito Capelo, Matosinhos, e termina em São Bento.
Neste traçado “particularmente sensível”, o metro deverá passar pelo Parque da Cidade num viaduto, projecto sobre o qual Rui Moreira afirmou “não valer a pena adiantar muito” pois “vai-se encontrar uma boa solução”. Depois de atravessar o parque, a linha é enterrada a partir da Avenida da Boavista e volta à superfície na planeada avenida Nun’ Álvares, para em seguida desembocar na Praça do Império.
É na avenida Nun’ Álvares que “começam os problemas” da proposta da Metro do Porto, assevera Rui Moreira. Para Lino Ferreira, a inserção do metro à superfície irá dificultar o tráfego, o “serviço pedonal” e a “construção de ciclovias”. “Numa zona nova de vivência urbana não é admissível ter passeios com metro e meio de cada lado”, não haver “lugar para estacionamentos” nem “faixas verdes”.
A linha impede ainda a viragem à esquerda dos automóveis nas duas vias de circulação, o que leva o trânsito para a Marginal, contrariando um dos objectivos da avenida Nun`Álvares: “espalhar o tráfego” para esvaziar “as vias atlânticas”, refere Rui Moreira.
Para impedir a nascença de uma “ferida urbana”, a Comissão defende que a linha se mantenha debaixo da terra, até porque “os custos seriam baixos”, dado a avenida “ser feita de raiz”, assinala Lino Ferreira, num momento em que a Metro do Porto regista um resultado líquido negativo de 148,6 milhões de euros no final de 2008, sendo que a subida de 11,5% dos custos inclui “os projectos em análise”, indica o Jornal de Negócios (ver caixa).
Metro do Porto termina 2008 com prejuízo de 148,6 milhões de euros
A Metro do Porto terminou o exercício de 2008 com um prejuízo de 148,6 milhões de euros, o que se traduz mum passivo de 2,13 mil milhões de euros. Apesar da procura ter crescido – houve um total de 51,5 milhões de validações no ano passado, o que corresponde a 170 mil validações por dia útil -, o cenário financeiro da empresa agravou 2,4 por cento em relação a 2007. A subida dos custos financeiros em 11,5 por cento e dos impostos em 70,6 por cento conduziram à acentuada quebra da performance da Metro do Porto.
Fluidez de trânsito e segurança em risco
O “principal problema” surge a partir da Praça do Império, de onde o metro atravessa a rua Diogo Botelho até ao Fluvial, voltando a enterrar no início do Campo Alegre. A linha na rua Diogo Botelho ficaria no meio da passagem dos autocarros e do atravessamento para a Universidade Católica, o que facilita “graves complicações aos níveis de trânsito e segurança”, aponta Lino Ferreira, relembrando que a zona da Pasteleira, para onde segue o metro, também é “muito povoada e tem muitas escolas”.
No Fluvial, torna-se, de novo, impossível virar à esquerda. Aqui, a Metro do Porto sugere a construção de uma rotunda para solucionar o problema, proposta que Rui Moreira vê como uma das “piores”. A Comissão alerta ainda para o facto de, nesta linha, o metro não poder ultrapassar os 50 km/h, enquanto que enterrado podia andar a 90 km/hora. Mas a Metro diz que a sua “filosofia é andar à superfície” e que “as pessoas assim o preferem”, cita Rui Moreira, acrescentando que os transportes são importantes mas não se podem sobrepor à “filosofia da cidade”.
Apesar da discordância com a proposta da Metro do Porto para a Linha do Campo Alegre, a Comissão de Acompanhamento realça que “a discussão ainda não está fechada” e que as reuniões têm decorrido “num ambiente cordial”. “Não há nenhuma guerra; a Metro até tem mostrado vontade de estudar as nossas propostas”, assegura Rui Moreira.
A próxima reunião com a Metro do Porto acontecerá esta sexta-feira, no mesmo dia em que a Comissão vai começar os encontros com as juntas de Freguesia e respectivas populações, no sentido de “recolher a opinião” dos cidadãos relativamente à disposição da futura linha. O primeiro é em Lordelo; seguem-se a Foz, a 3 de Abril, e Nevogilde, a 16 de Abril.