Quarta-feira. São nove e meia da noite. Na Casa da Rua, serve-se agora a sopa, acompanhada de pão e fruta. O rádio da cozinha onde se servem as refeições pontua a ocasião com a melancolia do fado.

Alberto Fernandes é um dos frequentadores habituais da Casa da Rua. Vive sozinho e faz as refeições todos os dias na instituição. Sem medo, contou a quem quis ouvir o que o conduziu à situação precária em que vive neste momento. A culpa, essa coloca-a num casamento falhado e nas cervejas. “Cheguei ao ponto em que não controlava o álcool”, refere.

Apoio a quem mais precisa

A Casa da Rua nasceu em 1998 pela mão da Santa Casa da Misericórdia do Porto e tem prestado auxílio aos sem abrigo portuenses desde então. A ajuda é feita a vários níveis, através de apoio psicológico, de serviço gratuito de lavandaria e residência temporária.

A história de Alberto não será, provavelmente, muito diferente das de quem passou, na noite desta quarta-feira, pela Casa da Rua. Após a refeição, poucos foram os que ficaram pelas mesas da associação, talvez porque rumaram à Trindade para recolher mais alimentos, ou talvez devido à forte presença da comunicação social.

Três dezenas de pessoas carenciadas aderiram ao ararnque da iniciativa, muito longe das 150 que a Santa Casa da Misericórdia espera acolher futuramente. “O projecto Sopa da Noite surge, primeiro, como resposta ao apelo do Bispo do Porto e, por outro lado, por causa da situação de crise que vivemos hoje em Portugal”, refere o Mesário da Santa Casa da Misericórdia do Porto, Álvaro Rodrigues.

A instituição pretende ainda colmatar a ausência de um local fixo onde se ofereçam refeições à noite e está consciente da importância do projecto. “Nós estamos convictos que, infelizmente, o programa vai ser um sucesso, mas o sucesso deveria medir-se pela ausência das pessoas”, declara Álvaro Rodrigues.

A iniciativa irá decorrer todas as noites entre as 21h e as 22h30, na Rua Duque de Loulé, perto da Praça da Batalha.