JPN: Como é que justifica o silêncio da Câmara do Porto perante o momento complicado do Boavista?

ABJ: Não discuto a postura da CMP, porque a postura de uma câmara deve ser definida pelo seu presidente e pelas pessoas que o acompanham. Em relação ao Boavista até tem tido alguma preocupação, como se demonstra pela garantia dada acerca da inalteração do PDM do Estádio do Bessa. Mas o que eu digo é diferente: outras câmaras têm outra postura. O que não podemos é dizer que os salários em atraso comprometem a verdade desportiva. E o apoio de algumas câmaras a clubes, quando outras não o fazem? Não desvirtua?

Estamos a falar de concorrência desleal, nessa dualidade de critérios tida por várias câmaras?

Também é um factor de concorrência desleal!

Se a mesma situação se passasse com o FC Porto, acredita que haveria uma posição mais declarada da CMP e um apoio mais visível?

Não tenho razões para dizer isso. Em boa verdade, não posso ir por esse caminho porque nunca me coloco na posição de um enteado perante um filho legítimo. E aí, não tenho nenhum tipo de razão de queixa da CMP. Incomoda-me, sobretudo, que algumas pessoas procurem apontar o Boavista como um dos símbolos da concorrência desleal porque tem ordenados em atraso e que não refiram a postura de algumas câmaras face a outros clubes. Isso é que me incomoda.

Que importância têm os movimentos de solidariedade para com o actual momento do Boavista?

A maior. Quantos mais amigos tivermos, mais fortes seremos.

O movimento «Justiça para o Boavista» tem estado em destaque na praça pública, nos últimos tempos. Crê que este grupo conseguirá sensibilizar os grandes símbolos da cidade para a causa do Boavista?

Sim e explico porquê: numa altura de crise, ver um movimento de jovens interessados por causas dá-me uma enorme satisfação como Presidente do Boavista, como boavisteiro, como portuense, como português. É bom ver a juventude empenhada em causas. Quanto aos símbolos, embora pareça que a cidade do Porto esteja a estremunhar, ela esfrega os olhos. Até porque já viu cair um emblema histórico da cidade, que foi o Sport Comércio e Salgueiros, e seguramente não quererá ver outro cair. Estamos a falar de um barulho que fará o tombo de 105 anos de existência e de entrega ao desporto e à função social pelo que acredito que a cidade vai esfregar os olhos e deixar de estremunhar. As atitudes de apoio da ACP, da PT e de um grupo de jovens que perde o seu tempo a lutar pela causa do Boavista, naturalmente que me conforta imenso.

Que retrato tira da massa adepta do Boavista neste último ano, desde a descida de escalão?

Dividia-a em duas partes: aquelas pessoas que têm mais dificuldades e que eu costumo dizer que são os notáveis do Boavista e as outras que passam por ser notáveis mas que se preocupam a partir do sofá. É uma maneira cómoda de estar preocupado e de estar à espera que os outros resolvam os problemas. Os que estão todos os dias aqui à porta, que vão às reuniões de sócios, que nos apoiam inquestionavelmente, esses sim são os notáveis do Boavista porque sofrem tanto como eu e sentem tantas dificuldades como qualquer membro da Direcção do clube.

Acredita que a tarja que tem corrido a Europa, em vários jogos de futebol, pedindo “Justiça para o Boavista” poderá ser um repto para um final de época mais positivo?

Dificilmente uma tarja poderia ter um significado tão real e ser tão verdadeiro como o que essa tarja representa. É, de facto, uma tarja que reflecte a verdade que se exige que seja reposta.