O edifício onde já funcionou a central eléctrica da Companhia Carris de Ferro do Porto e, posteriormente o Colégio Luso-Internacional do Porto (CLIP), vai ser transformada em restaurante, bar dançante e salão de chá. Orçada em 2,5 milhões de euros, a obra deverá estar concluída até final do ano.

A futura “Kasa da Praia” pertence ao grupo K, detentor de espaços nocturnos como a “Kapital”, em Lisboa. Ao “Jornal de Notícias”, o administrador do grupo, Paulo Dâmaso, confirmou que o concurso para a escolha de construtoras vai abrir ainda este mês. Se tudo correr dentro do previsto, “contamos abrir a Kasa da Praia até ao final do ano”, diz o responsável.

8 anos de burocracia para o licenciamento

O processo de licenciamento para a requalificação das ruínas do antigo edifício do Colégio Luso-Internacional do Porto, situadas na frente marítima portuense, teve início há 8 anos, com a já extinta sociedade Porto 2001. Em 2002, esta sociedade concessionou o imóvel à empresa RM Hotelaria e Similares. Mas só em Outubro do ano passado é que o processo foi concluído, com a autorização da Câmara Municipal do Porto e a aprovação do projecto dos arquitectos Filipe Oliveira Dias e Mário Moura.

O grupo K diz-se ainda “penalizado pelos anos de burocracia (ver caixa)” que passaram até à resolução do projecto. “Teria sido muito mais interessante inaugurar a Kasa da Praia há sete anos atrás, tal como estava previsto. Mas acreditamos no projecto e que terá sucesso”, acrescenta o administrador.

Em declarações ao “JN”, Filipe Oliveira Dias, um dos arquitectos do projecto, garantiu que “nada foi alterado a nível conceptual” e que “a estrutura principal da fachada exterior do antigo colégio será mantida”. Manter a “imagem histórica” do edifício foi, aliás, uma das grandes preocupações dos arquitectos. “É o diálogo da imagem histórica e industrial do edifício do início do século XX com uma imagem dos nossos dias. Penso que respeita e valoriza ambas as vertentes”, salienta Oliveira Dias.

População dividida

Entre os comerciantes do Edifício Transparente e aqueles que se passeiam junto à futura “Kasa da Praia” dividem-se as opiniões em torno da reabilitação do edifício. João Bailina, gerente do Porto Pausa, considera o investimento “uma mais valia para a área. Penso que tudo o que traga mais gente aqui para esta zona, só vem trazer vantagens e obviamente que ficarmos com aquele edifício reabilitado é necessário”, referiu ao JPN.

Opinião diferente tem Carla Andrade, sub-gerente da Cañas e Tapas, que teme o aumento da concorrência: “Eu acho que vai trazer mais dinâmica, mas lamento que utilizem novamente para fins de restauração ou comércio, visto que este edifício foi pensado para ter um serviço público”.

Carmen Inocêncio, do Picaba, por seu lado, vê aspectos positivos e negativos no novo empreendimento: “É uma mais valia para a zona. O edificio tem um ar um bocado degradado e como ainda por cima está ali no meio, seria até um chamariz”. E acrescenta, “se fosse uma discoteca, seria só à noite, poderia ser bom, se não, a casa já tem clientes fiéis, não me parece que seja afectada; é um público diferente”.

Entre os mais jovens que frequentam a zona, Maria João Ferreira e Luís Sottomayor lamentam que o edifício esteja abandonado e esperam que “seja um sítio giro” para frequentarem, até pela localização. “É logo em frente ao mar: é um bom sítio”. Mas o preço também é um factor decisivo: “esperamos que seja barato”, salientam.

Há ainda quem critique a opção de instalar mais um espaço comercial junto ao Parque da Cidade. É o caso de Fátima Oliveira, para quem o edifício “não tem pés nem cabeça. Agora se já está decidida a reabilitação é sempre melhor do que ficar assim, como é óbvio”, salienta a moradora, para logo lançar uma sugestão: “mais valia criar espaços alternativos e situações diferentes. Imagino um espaço aberto, algum espaço multimédia, algo mais inovador do que propriamente comércio. Se durante o dia for criada uma estrutura interessante, alternativa, a casa de chá, quem sabe eu irei lá tomar…”

Bem diferente é a posição de Fausto Sousa, frequentador da praia de Matosinhos “desde os tempos de menino”. “É bem preciso dinamizar esta zona ao pé da praia, do Parque da Cidade. Pensava que isto era um caso perdido, mas parece que agora vai de vez”, confessa o septuagenário.