A UEFA acaba de anunciar a criação da Liga dos Campeões de futebol feminino. A prova, que começa já na próxima época, substitui a Taça da Europa e assume um formato semelhante ao da Liga dos Campeões masculina.

A competição integra o primeiro e segundo classificados dos campeonatos das oito federações com melhor coeficiente de resultados na Taça da Europa entre as épocas de 2003/04 e 2007/08 (a competição teve início em 2001). Alemanha, Suíça, Inglaterra, França, Dinamarca, Rússia, Noruega e Itália são os países com clubes em competição. Portugal não está representado porque ocupa a 26.ª posição do ranking europeu (é 41.º do mundo).

Duarte Monteiro, jornalista do site “Ogolo”, defende que a colagem à competição masculina “não é necessariamente positiva” porque, defende, no formato anterior, “a estrutura era mais justa porque privilegiava a vertente desportiva”, enquanto que a nova competição “parece mais politizada” e virada para o aspecto económico.

Futebol feminino em Portugal “tende a morrer”

Em Portugal, a primeira divisão do campeonato nacional existe desde a época 1985/86 e é disputada por seis equipas em quatro voltas. No próximo ano o número de equipas aumenta para 10 e as voltas passam a ser apenas duas.

Maria João Neves, treinadora do futebol feminino do Boavista Futebol Clube, defende, em conversa telefónica com o JPN, que o ranking de Portugal “reflecte o fraco investimento da federação no futebol feminino”. “Até clubes da primeira divisão do campeonato masculino sénior sentem dificuldades”, aponta. “É fácil de ver a dificuldade do futebol feminino porque é uma modalidade amadora”, conclui. Como exemplo dá o seu. “O Boavista está na final da Taça, mas a participação no próximo campeonato nacional está em causa”, diz Maria João.

A treinadora gostaria que a federação ajudasse mais os clubes, sobretudo nas despesas de deslocação. “São custos incomportáveis” e assim “o futebol feminino tende a morrer”. “Lá fora as jogadoras são profissionais, cá fazemos isto por carolice”, argumenta.

A treinadora axadrezada acusa a federação de distribuir fundos pela selecção em vez de o fazer nos clubes, onde “fazem mais falta”. Apesar das dificuldades, há um “entusiasmo crescente na modalidade, sobretudo na vertente futsal feminino”.

Alexandrina Silva é a treinadora do despromovido ARC Várzea e concorda com a colega. “É preciso tomar medidas para incentivar os clubes a ter futebol feminino”, defende. “Mais de 70% da selecção joga fora do país, as jogadoras são boas mas são obrigadas a emigrar”, conta Alexandrina ao JPN. A treinadora espera que a estrutura da Liga dos Campeões feminina sirva de “incentivo às outras federações para apostarem no futebol feminino”.

O JPN tentou falar com a seleccionadora Mónica Jorge ou com algum responsável da federação mas não obteve resposta em tempo útil.