Élio Rodrigues, Inês Espiga e Rui Guedes são estudantes na área das Ciências da Saúde e estão quase a entrar no mercado de trabalho. Em pleno Dia Mundial da Saúde, o JPN colocou a mesma pergunta aos futuros médicos e enfermeiros: Como será que enfrentam os problemas e desafios do Serviço Nacional de Saúde, trinta anos após a sua criação?

Estudante do quinto ano de Medicina na Universidade de Coimbra, Élio Rodrigues traça um diagnóstico pouco animador. “Hoje em dia, não estão criadas todas as condições necessárias para a boa prática da medicina no Serviço Nacional de Saúde”, avisa o jovem.

“Há uma preocupação desmedida pelo custo de toda e qualquer coisa. O SNS está demorado, burocrático e pouco pessoal no que concerne à relação medico/doente”, acrescenta,.

Apesar do pessimismo, a paixão pela medicina é comum a Inês Espiga, recém-licenciada prestes a tornar-se anestesista. A jovem, que já teve oportunidade de conhecer a realidade do serviço de saúde brasileiro, acredita que o principal problema em Portugal é a “falta de formação prática nas universidades”.

Para Rui Guedes, os problemas são outros. Há já alguns meses que o futuro enfermeiro envia currículos para vários hospitais em diversas zonas do país, mas sem resultados. “A maioria dos serviços hospitalares públicos está com falta de pessoal, não temos enfermeiros suficientes mas ao nível da gestão, os enfermeiros necessários não são contratados”, alerta o jovem, sobre aquilo que considera ser uma “má gestão dos recursos humanos.”

Púbico ou privado?

Há muito que estes jovens perderam o medo da bata branca. Agora, a preocupação passa, por exemplo, por onde usá-la: se no serviço público ou se no privado. Atentos às políticas do SNS, os jovens são unânimes em considerar que os hospitais públicos centrais estão bem equipados, Depois da experiência marcante no Brasil, as preocupações sociais da Inês aumentaram e fizeram crescer a sua vontade de trabalhar no serviço público, que será sempre a “primeira opção.”

Já Élio “aponta” a “impessoalidade” como grande desvantagem do do SNS. “No sector privado, o doente pode escolher o seu médico”, diz o futuro clínico, confessando-se atraído pela possibilidade de trabalhar nos dois sectores.

Palavras que surgem numa altura em que o Governo pretende implementar um regime de exclusividade aos profissionais, impedindo a acumulação de empregos nos dois sectores, realidade que é considerada, por muitos, como promiscua. Inês defende que a exclusividade faz sentido para médicos que sacrificam o serviço público” em função do lucro que obtêm no privado.

À medida que se aproxima do fim do curso, Élio apercebe-se de que a experiência é o mais importante e, por isso, mantém a convicção de que a acumulação de serviços nos dois sectores é uma mais valia, “quer para médicos quer para doentes”. No entanto, “há que saber gerir os dois sectores e não deixar que os privados se sobreponham ao público”, uma vez que isso “constituiria um risco para muitos doentes”, contrapõe

Ética acima de tudo

A gestão dos hospitais por empresas privadas é outra das questões que preocupa os futuros profissionais. Inês teme que as decisões médicas passem a ser tomadas “não só em função dos doentes mas tendo em vista o lucro que a empresa exige.” Prestes a iniciar o seu percurso enquanto médica, a jovem receia ter de pôr em causa os seus próprios valores éticos.

Vão ser médicos e enfermeiros e querem melhores soluções. Na comemoração dos 30 anos do serviço nacional de saúde não fazem um balanço muito positivo, mas nem por isso deixam de perseguir os sonhos. “O gosto pela profissão supera todas as dificuldades”, remata Rui.