Investigadores da Universidade de Oxford e do Imperial College of London concluíram, num estudo publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”, que indivíduos com elevada actividade no hipocampo têm maior probabilidade de, mais tarde, desenvolver doença de Alzheimer.

Assim, a criação de um teste que detecte a hiperactividade na zona específica do cérebro pode ser útil no diagnóstico precoce da patologia que afecta, só em Portugal, cerca de 60 mil pessoas. A doença de Alzheimer é uma forma de demência que se caracteriza pela perda progressiva da memória e de outras funções cerebrais.

O estudo surge depois de a comunidade científica ter descoberto que os portadores do gene APOE têm um risco maior para desenvolverem Alzheimer de início tardio (após os 65 anos). Os cientistas britânicos relacionam este gene específico com o aumento de actividade no hipocampo (ver caixa) em pessoas jovens.

O que é o Hipocampo?

Parte do Sistema Límbico, que se situa na zona anterior do cérebro, o hipocampo desempenha um papel fundamental na memória, retendo as informações. É, deste modo, uma das zonas mais afectadas pela doença de Alzheimer. O hipocampo permite, por exemplo, que as pessoas se reconheçam umas às outras

Carolina Garrett, Neurologista no Hospital de São João, explica que os doentes de Alzheimer portadores do alelo epsilon-4 do gene APOE “se comportam de forma diferente dos que não o têm”, pelo menos no que diz respeito à evolução da doença e à “resposta terapêutica”.

Para a também docente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o estudo veio ainda demonstrar que a presença do mesmo alelo “confere características diferentes ao funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC) em indivíduos saudáveis”. O problema, de acordo com a especialista, reside no facto de não se saber “quais desses indivíduos vão ter doença de Alzheimer e se existe alguma coisa que os possa distinguir”.

Apesar de o estudo não responder a todas as questões, Carolina Garrett acredita que “este é um passo importante para compreensão da influência que esse alelo pode ter no funcionamento do SNC”. No entanto “só o futuro nos poderá dizer se, em termos de diagnóstico pré-sintomático, vai ser importante”, esclarece ao JPN.

A conclusão da investigação dos cientistas britânicos é, para a Neurologista do HSJ, “mais um aspecto a ter em consideração na procura de marcadores biológicos da doença que possam antecipar o diagnóstico”. Algo que pode vir a revelar-se importante se os “tratamentos modificadores do Alzheimer se mostrarem eficazes”, remata.