Há cerca de dois anos, a rua do Breyner era um símbolo da desertificação habitacional e comercial da Baixa. Contudo, de acordo com novos moradores e lojistas, “é simpático saber que há muitas coisas a acontecer agora”.

A afirmação é de Álvaro Negrello, natural de Locarno, no cantão italiano da Suíça, e maquetista de arquitectura. Com atelier no Porto desde 1993, mudou-se para a Baixa nos últimos anos por várias razões. A zona é “interessante”, a sua casa é “grande” e os preços são “convicentes e bons”.

O suíço frisa que, “nos últimos dois, três anos”, nota que “cada vez mais gente”, particularmente “artistas”, têm vindo para a Baixa viver. E, por isso, atira uma previsão: “Quando quem tiver dinheiro descobrir o que é viver no centro, quando virar moda, os artistas vão ter de se deslocar para outro sítio”.

Por enquanto é no Breyner 85 que os olhares se fixam, expectantes. O projecto de David Fialho e Rui Pina, que vai abrir em breve, reconverteu uma casa centenária num clube e academia de música e artes.

Outro dos espaços recuperados foi uma antiga fábrica que deu origem ao lar de idosos do banco Montepio.

Há espaço para tudo na rua do Breyner

Também a loja do estilista Pedro Pinto vai ser inaugurada nos próximos dias. Optou pelo centro do Porto em detrimento de Matosinhos, local onde abriu o primeiro atelier, por considerar “mais interessante ter uma loja na Baixa, não só porque é mais tradicional, mas porque tem muito mais dinamismo”. Além disso, justifica, “a rua do Breyner está incluída no circuito da Miguel Bombarda”, um zona artística por excelência.

O estilista não escolheu uma loja no interior do Centro Comercial Bombarda pois “não tinha espaço suficiente” e também porque encara a Baixa como uma zona em expansão. O criativo defende que a própria rua Miguel Bombarda devia investir noutros géneros de arte, para além das artes plásticas. “Outro tipo de coisas que diversifiquem a oferta”, justifica.

Eugénio Veiga, proprietário do atelier de conservação e restauro, Cotonete e Bisturi, defende que infra-estruturas como a residência do Montepio, as galerias de arte de Miguel Bombarda, o núcleo de antiquários da rua da Torrinha, o Instituto Britânico e a loja de roupa do estilista Pedro Pinto “estão a valorizar a zona”, trazendo uma “maior e melhor frequência de públicos”. Um fenómeno que, diz, lhe garante “mais-valias automaticamente”.

Residentes cativos da rua, como o Instituto Britânico, também participam na oferta cultural e recreativa. Para além dos cursos e exames exclusivos para os inscritos, foi criada uma discussão mensal, aberta ao público, de uma obra em inglês. “O grupo de leitura reúne-se uma vez por mês; é gratuito [e está aberto a] qualquer pessoa interessada em conviver e conversar durante duas horas à volta de uma obra. Começou há quatro anos”, explica a professora de Marketing e Comunicação do Instituto, Maria K. Norton.

Como desfecho de um fim de manhã ou de tarde, o restaurante de comida vegetariana Nakité apresenta um menu económico ao almoço. As especialidades são a francesinha vegetariana, a lasanha e os cogumelos Portobello salteados.

Na Breyner há sete anos, o restaurante tem os seus clientes habituais, que procuram este tipo de gastronomia. Claro que dia de exposições em Miguel Bombarda é sinónimo de casa cheia. “Há mais actividade e pessoas na área e, [por isso] o restaurante tem tendência a encher”, diz Inês Fernandes, a trabalhar no Nakité desde 2005.