“Sempre fiz arquitectura como pintor”. As palavras pertencem a Nadir Afonso e inspiraram Agostinho Santos a traçar o “Itinerário (com)sentido”, um livro onde o jornalista faz uma retrospectiva da vida e da obra do artista portuense.

Ilustrado por centenas de pinturas, fotografias e documentos, o livro inclui depoimentos do pintor Júlio Resende, bem como de vários familiares de Nadir Afonso. “É uma espécie de autobiografia partilhada”, resume Maria José Magalhães, psicóloga que participa no livro com uma análise sociológica ao trabalho do pintor, arquitecto e filósofo.

Admiradora “desde a adolescência” da obra de Nadir Afonso, a actual docente Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) define a arte do artista plástico como “a procura da perfeição, não obstante à procura da geometria natural das coisas e da essência matemática da natureza”.

Perfil

Nascido em Chaves em 1920, Nadir Afonso formou-se em Arquitectura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Em 1946, ingressa na École des Beaux-Arts, em Paris, para estudar pintura. Maria José Magalhães conta que, chegado a França apenas com duas telas na mão, Nadir Afonso “bateu à porta de Le Corbusier” e começou a trabalhar como seu empregado. Óscar Niemeyer e Fernand Léger são outros dos nomes ilustres com quem o pintor português trabalhou. Em 1965, “consciente da sua inadaptação social”, abandona a arquitectura e dedica-se totalmente à pintura e à filosofia, tendo, desde então, exposto o seu trabalho em todo o mundo e sido distinguido com os mais variados prémios.

Traços se uma obra onde a pintura e a arquitectura se confundem (ver caixa). “Sempre fez arquitectura procurando encontrar a pintura”, revela Maria José Magalhães, complementando com um episódio da vida do artista enquanto estudante de arquitectura: “Ele punha o cavalete ao alto como se estivesse a pintar em vez de pôr na horizontal, como é habitual na arquitectura”.

Apesar da preferência pela pintura, a autora considera que Nadir Afonso “não seria Nadir se não tivesse feito este percurso pela arquitectura”. “Não seria um homem que sempre se procurou encontrar-se a si próprio e à perfeição, a essência das coisas e não estar apegado aos objectos ao dinheiro”, acrescenta.

Palavras que Maria José Magalhães vai poder repetir, esta quarta-feira à noite, durante a apresentação do “Itinerário (com)sentido” no Museu do Chiado, em Lisboa. A sessão contará com a presença do próprio Nadir Afonso.