A utilização de sistemas de localização de crianças por GPS deve ser feita “de forma responsável.” Segundo o psicólogo Francisco Machado, “esta tecnologia pode funcionar como uma segurança extra, mas não deve substituir determinado tipo de rotinas de autonomia que devem ser dadas às crianças, nomeadamente a responsabilidade de dizer aos pais onde estão, a responsabilidade de cumprir horários e de usar percursos conhecidos.”

Concebido exclusivamente com tecnologia portuguesa, o dispositivo de localização de crianças “Child Locator” está no mercado desde Novembro e vendeu, até agora, 300 exemplares. Além de sistemas com GPS, há também serviços disponibilizados pelos operadores móveis como é o caso do “Localizz” da TMN. O JPN contactou a referida operadora e conseguiu apurar que “actualmente, este serviço da TMN está essencialmente focalizado nos pais ou encarregados de educação.”

Na opinião de Francisco Machado, a idade da criança é um aspecto fundamental a ter em conta na utilização de sistemas de localização por GPS. “É um método interessante para as crianças mais novas e acho que poderá ser bastante benéfico, mas, na minha opinião, fará mais sentido em idades precoces”, defende o psicólogo.

“Dificilmente um adolescente irá achar piada a que seja exercida uma forma intensa de controlo sobre si”, acrescenta Francisco Machado.

Segurança pode ser “ilusória”

Em entrevista ao JPN, Francisco Machado defende que “os pais têm de ter a noção de que a falta de segurança faz parte da função de pai, ou seja, não é por haver uma máquina que lhes diz 24 horas sob 24 horas onde estão os filhos que vai fazer com que eles estejam mais seguros.” O psicólogo alerta, assim, para a possibilidade de as crianças “deixarem o transmissor na mochila dentro da escola, indo a outro sítio sem os pais saberem.”

Os dispositivos e outros sistemas de localização surgem como adaptações das necessidades dos pais à dinâmica dos seus dias. “A falta de tempo conjunto de pais e filhos, principalmente nas famílias em que ambos os pais trabalham, leva a que reste pouco tempo para se trabalharem questões de confiança que só conseguem ser trabalhadas através de partilha de experiências”, esclarece Francisco Machado. Os localizadores funcionam, segundo o psicólogo, como “um calmante tecnológico” para os pais.

Sistemas de localização dividem pais e avós

Carolina Carvalho, de 71 anos, tem dois filhos e três netos. Concorda com a utilização de dispositivos de localização de crianças e afirma que, na altura em que educou os filhos não havia este tipo de instrumentos. “Não havia nada disso. Quando os ingleses vinham cá, às vezes, traziam as crianças numa espécie de trela. Eu via isso e achava um bocado estranho, mas depois comecei a compreender que era uma forma de controlar o miúdos e achei muito bem”, confessa.

Contrariamente, Mariana Azevedo, de 22 anos, foi mãe há sete meses e assegura que “não usaria o sistema de localização com a Leonor, aliás, jamais o usaria.” A jovem acredita que este tipo de tecnologia pode tornar-se um “obstáculo à liberdade das crianças.” “Penso que tudo passa pela criação de uma relação de confiança entre pais e filhos, dando-lhes conta dos perigos do mundo e da necessidade de haver regras. Não basta impô-las”, defende Mariana Azevedo.

Ilda Andrade é professora na escola EB 2,3 de Freixianda e afirma não ter conhecimento de nenhuma criança que utilize dispositivos com GPS. Ainda não tem filhos, mas não descarta a utilização desta tecnologia um dia mais tarde, “acima de tudo por uma questão de segurança.”