Há precisamente 40 anos eclodia, na Universidade de Coimbra, a maior crise académica de que Portugal tem memória. Quarenta anos depois, os actuais estudantes conimbricenses assinalam a data, com uma série de actividades programadas para o mês de Abril, numa altura em que o ensino atravessa uma fase um pouco conturbada.

Foi a crise académica de 1969 que, imbuída pelos ideais de 68, provocou, entre outras coisas, a demissão do então Ministro da Educação, a mudança de reitor na universidade e o progressivo chamamento de estudantes para a guerra colonial.

Tudo aconteceu a 17 de Abril de 1969, aquando da visita do então Presidente da República, Américo Thomaz, ao novo edifício do departamento de Matemática da Universidade de Coimbra. O então presidente da Associação Académica de Coimbra, actual líder parlamentar socialista, Alberto Martins, pediu a palavra para intervir, em nome dos estudantes, durante a cerimónia.

Um pedido que foi recusado e Alberto Martins foi detido nessa noite. Acendia-se, então, o rastilho de um dos maiores momentos de reivindicações estudantis português, agora relembrado pelos alunos da mais antiga Academia do país.

“As comemorações começaram já no passado dia 13 [de Abril]. Decidimos fazer uma comemoração de 15 dias, acompanhando também outra efeméride muito importante para nós, o 25 de Abril”, diz ao JPN, João Alexandre, vice-presidente da Associação Académica de Coimbra.

“Queriam que a voz dos estudantes fosse ouvida”

Ao longo de duas semanas vão ser realizadas mais de 30 iniciativas relacionadas com a Crise Académica de 1969, uma revolta que provocou um enorme impacto, não só em Coimbra, mas também no país, como explica o historiador Rui Bebiano.

“Tudo o que se passava na Universidade acabava por ter um impacto maior. O que quer que acontecesse na Universidade de Coimbra acabava por ter uma importância enorme para o país.”

Os alunos de Coimbra lutavam pela democratização do ensino. “Queriam que a voz dos estudantes fosse ouvida”, remata Rui Bebiano. Em consequência da revolta do 17 de Abril de 1969, seguiram-se seis meses de manifestações e boicotes.