O triângulo que se estabelece entre a Ciência, a Arte e a Religião foi o tema da conferência “Novos Triângulos”, promovida pelo projecto “Porto, Cidade da Ciência”. À conversa na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, esta quinta-feira, estiveram o físico Carlos Fiolhais, o padre Jorge Cunha e o arquitecto Eduardo Souto Moura, sob a moderação de Luís Portela, presidente da Fundação Bial.
Souto Moura e a Casa das Artes
Souto Moura abordou o “problema da exactidão”, cada vez mais exagerada hoje em dia, dando como exemplo as regras relativas aos acessos para deficientes. “Se formos adoptar o regulamento dos deficientes, todos os edifícios antigos teriam de ser demolidos”, refere o arquitecto. Recorde-se que Eduardo Souto Moura está a reformular o projecto da Casa das Artes no Porto, para acrescentar elevadores e acessos para pessoas com deficiência.
Para Jorge Cunha, a posição religiosa não tem de ser necessariamente contrária à científica, pois “explica o milagre de uma maneira que não colide com a ciência”. O teólogo afirma ainda que, através do auxílio da Religião, a Ciência “pode ser livrada da sua tentação totalitária” e que o conhecimento teológico pode ajudar a resolver questões bioéticas.
Igual pensamento é partilhado por Carlos Fiolhais, docente de Física em Coimbra, que entende que é possível fazer uma “leitura científica e uma leitura teológica” e que “as duas podem co-existir”.
Para o também director da Biblioteca da Universidade de Coimbra, a ligação entre os “vértices” do triângulo Arte-Ciência-Religião pode ser feita de diversas formas e considera que, em comum, todas têm o facto de estarem associadas a conceitos de difícil explicação.
Já Eduardo Souto Moura considera que cada uma das três áreas em debate “se sente mais instável, já que deixou de haver a dicotomia arrogante” da verdade absoluta. O arquitecto acredita que os problemas que enfrentam são “sempre os mesmos” e cada vez “mais parecidos”.
Citando Ítalo Calvino na obra “Seis Propostas para o Próximo Milénio”, Souto Moura ressalvou que hoje em dia é preciso “correr o risco do erro” para haver evolução. “Acredito que Deus fez o mundo mal feito e o Homem intervém para o corrigir”, diz.
O arquitecto portuense criticou, ainda, a dificuldade que “os clientes” têm em decidir o que querem. “Hoje em dia toda a gente quer edifícios multi-usos, um conceito que devia ser proibido”, explica.